A racionalidade colocou o ser humano no topo evolutivo. Porém, com ela, também veio dura a consciência de nossa finitude, de que, não importa quanto dinheiro, fama ou sucesso tenhamos, nossas histórias pessoais sempre acabarão da mesma maneira: com a morte do protagonista.
Talvez seja exatamente por isso que é tão importante a – às vezes incessante e inglória – busca por bons relacionamentos, para que possamos trilhar nossos caminhos com dignidade, a fim de que um dia, olhemos para trás e sintamos orgulho de nossa trajetória.
Nem sempre é fácil encontrar tais relações que nos engrandecem, e quando estas fazem parte de laços familiares inerentes a nossa escolha, a coisa pode se complicar ainda mais. Mas, é gratificante quando acompanhamos narrativas como a de “Algum Lugar Especial” (Nowhere Special).
Dirigido por Uberto Pasolini (também responsável pelo roteiro), o drama italiano baseado em fatos reais gira em torno de uma dupla formada por um pai e um filho que terá que lidar, precocemente, com uma injusta e dolorosa separação.
Ao ser diagnosticado com uma doença incurável e saber que lhe restam poucos meses, John (James Norton) precisará tomar a decisão mais difícil de sua vida: encontrar uma família adotiva para Michael (Daniel Lamont), seu filhinho de apenas três anos, de quem cuida sozinho desde que a mãe da criança os abandonou, quando o garotinho tinha apenas seis meses.
Com a ajuda de assistentes sociais, John é levado a conhecer inúmeras famílias que tiveram sua solicitação para adotar uma criança previamente aprovadas. Do casal milionário que não mede esforços para mostrar todo conforto material que pode oferecer, à jovem divorciada que tem uma triste história anterior e abriu mão de seu casamento por divergências de interesses com o marido no que diz respeito à adoção.
Entre uma entrevista e outra, acompanhamos a dura rotina de John para manter-se ativo em sua profissão de limpador de janelas, enquanto precisa lidar com a incompreensão de clientes arrogantes (quando nitidamente está passando mal, devido à gravidade de sua doença), e com a difícil missão de explicar para seu filho que sua partida não se dará por falta de amor, mas porque a vida – e a morte – são incontroláveis na maior parte do tempo.
O longa conta um ritmo bastante singular, com poucos diálogos e várias cenas que tocam o público justamente por sua profundidade que não precisa ser explicada. E, embora já tenhamos em mente (desde o começo) até que ponto a história chegaria, a cena final consegue ser de uma grandeza e importância que cumpre magistralmente não só a proposta de emocionar, mas de fazer com que acabemos nos questionando sobre várias atitudes que tomamos (ou não) em nosso tempo sobre a terra.
Fica minha torcida para que “Algum Lugar Especial” tenha o reconhecimento que merece.
Vale muito a pena conferir.
por Angela Debellis
*Titulo assistido via streaming, a convite da A2 Filmes.