Crítica: “Era Uma Vez um Gênio”

Logo no início de “Era Uma Vez um Gênio” (Three Thousand Years of Longing), Alithea Binnie (Tilda Swinton) afirma que as histórias tornam-se mais interessantes quando contadas como fábulas fantásticas.

E é sob esse prisma que somos levados pela trama escrita por George Miller (que também assume a direção) e Augusta Gore – baseada no na coleção de contos “The Djinn in the Nightingale’s Eye” de A. S. Byatt, lançado em 1994 -, que consegue a sempre celebrada façanha de ser atraente e manter-se relevante, sem perder o viés emocional e de encantamento, durante os 108 minutos de duração do longa.

A protagonista em questão se declara como sendo uma criatura de natureza solitária – fato comprovado através de flashbacks de sua infância / pré-adolescência (nessa parte, interpretada por Alyla Browne), que, mesclados a uma delicada técnica de animação, fazem o público refletir sobre suas próprias decisões acerca de amizades que construímos / perdemos no decorrer da vida.

Ainda mais reclusa – após um casamento fracassado -, Alithea não parece infeliz com a situação. A professora de literatura / narratologia que vive em Londres, viaja a Turquia a fim de ministrar palestras sobre mitologia e é nesse cenário que sua vida mudará radicalmente.

Ao adquirir um souvenir – em forma de uma pequenina garrafa de vidro – no principal mercado de Istambul, ela descobrirá que esta é um receptáculo que encarcera um ser que vive no imaginário dos fãs de obras do universo de fantasia em geral: O Gênio (Idris Elba).

Como em toda história do gênero que se preze, ao libertar tal figura extraordinária, três desejos lhe são concedidos e, ao término de sua realização, o Gênio estará, enfim, liberto, após três aprisionamentos distintos nos últimos três mil anos.

O problema é que a acadêmica não tem nenhuma ambição, não há nada que deseje de coração, o que torna-se um inesperado obstáculo a ser ultrapassado por quem depende de sua vontade para acabar com a servidão que lhe foi imposta.

Embora com um encontro inicial que não parece nada promissor – devido à atitude de distanciamento de Alithea – a dupla toma por completo a tela e transforma o espectador em um terceiro participante da narrativa, ao conduzir o público em uma viagem milenar, através das memórias do Gênio.

Do interior do palácio da Rainha de Sabá (Aamito Lagum) às profundezas do Mar Vermelho; do poder de Constantinopla ao fundo do Estreito de Bósforo, a jornada do ser mítico foi regada por beleza, luxo e desejo, mas também teve grandes parcelas de dor, frustração e injustiças. Tudo mostrado com a eficiência de eficazes figurinos criados por Kym Barret, do belíssimo trabalho de fotografia de John Seale e do design de produção de Roger Ford.

Com efeitos visuais surpreendentes (dado o orçamento de US$ 60 milhões – baixíssimo, se comparado a outros títulos de maior visibilidade), o que se destaca mesmo é qualidade final da obra, em todo seu esplendor. A experiência de ver Idris Elba e Tilda Swinton em perfeita sintonia em cena, a trilha sonora de Tom Holkenborg – que, imediatamente, entrou para minha lista de favoritas – a sutileza com que o amor (e todas suas contradições) é tratado, é algo que engrandece quem assiste a “Era Uma Vez um Gênio”.

A soma desses elementos, talvez seja o mais próximo do real significado de fantástico e o que torna o filme um dos mais maravilhosos (e porque não dizer, “geniais”, literalmente), não de só 2022, mas de muitos anos.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paris Filmes.

Filed in: Cinema

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