Imagine uma surpreendente turminha formada pelos mais clássicos bichinhos, daqueles que encontramos em todo bom jardim.
Uma sincera (até demais!) joaninha, um caracol romântico (e eternamente apaixonado por uma borboleta com ares de Top Model), uma minhoca gentil, uma plantinha carnívora com resposta para tudo, um minúsculo e silencioso lagarto e a mais nova estrela: um tatu-bolinha bebê, que promete muitas risadas aos leitores das historinhas. Impossível não se apaixonar!
Esse é o incrível mundo dos “Bichinhos de Jardim” criado pela quadrinista Clara Gomes que já conta com um blog próprio (desde 2006), a publicação de um livro que reúne as melhores tirinhas, o pré-lançamento de bichinhos de pelúcia e um novo desafio de se publicar tiras no Jornal O Globo.
Nosso site A Toupeira teve a honra de entrevistá-la. E o resultado dessa aguardada “conversa entre amigas virtuais”, é o que você confere a seguir.
A Toupeira: “Bichinhos de Jardim” é uma tirinha com traços infantis, porém com humor por vezes “ácido”. Essa combinação foi planejada desde o início?
Clara Gomes: Meu desenho sempre foi fofo e as histórias, no princípio, eram bem bobas. Com o tempo é que encontrei o tom dos personagens – com um humor um pouco mais questionador do que se esperaria de bichinhos aparentemente tão pueris.
AT: Recentemente o tatu bolinha Tuta entrou para a turma. Como saber que está na hora de incluir um novo personagem? Há algum tipo de pressão para essa criação?
CG: Há uma pressão interna. Um novo personagem dá abertura para a criação e impede que roteiros se repitam. Um outro ecossistema nasce e a relação entre as criaturinhas ganha novos ares.
AT: As personalidades dos bichinhos são bem distintas. Você se baseou em alguém para defini-las?
CG: Não diretamente, mas minha família paterna foi uma das inspirações para a Joaninha. Algumas características como o tempero entre agressividade, mau humor, senso de justiça e o desejo de ‘consertar’ o mundo vêm deles. Nunca estudei formalmente para criar personagens e combinar suas personalidades, mas tento perceber como isso funciona nos seriados de comédia a que assisto, por exemplo. E principalmente na vida real, claro… Da mistura disso tudo, vou criando meu mundinho.
AT: Chega a surpreendê-la o fato de que os personagens mais queridos do público sejam Maria Joaninha Cascudo (com seu mau humor crônico) e Meleca (com seu silêncio absoluto)?
CG: A Joana não me surpreende, por ela ser a válvula de escape. É a mais reclamona, perspicaz, percebe bem a realidade – além de dar a palavra final em tudo: é a dona da verdade. É fácil se identificar com isso – nós somos assim, ou pelo menos pensamos ser. Já a relação dos leitores com o Meleca é bem mais interessante, porque ele é doce, reflexivo, misterioso. Ao mesmo tempo é como se fosse um bicho de estimação, que nunca fala nada mas está sempre presente. Ele é o companheiro, eu acho.
AT: Você é fã do trabalho de outros cartunistas? Quais?
CG: Nossa, eu adoro muita gente. Os que mais amo são Bill Watterson e Liniers, por fazerem um trabalho sensível e inteligente – essa é minha aspiração. Além, é claro, dos mestres Laerte, Henfil, Angeli, Adão… Aprendo também muito com os colegas mais da minha geração, Bennet, Dahmer, Arnaldo Branco, Pablo Carranza, Estêvão Ribeiro, Lafayette, Sica, Salimena e vários outros.
AT: Qual a sensação de ver seu livro publicado? Imaginava tamanho sucesso?
CG: É muito bacana ter um livro, parece um sonho de criança se realizando. Mas não chega a ser um grande sucesso, é mais uma curtição mesmo, por enquanto. Talvez um dia esse livro valha muito para os colecionadores, quem sabe?
AT: Há expectativa de se atender os inúmeros pedidos e levar os Bichinhos para um mercado mais amplo (revistas em quadrinhos, brinquedos)?
CG: Revistas eu não acredito, porque não escrevo histórias longas e nem teria condição de produzir tanto material. Mas brinquedos e outras “bugiganguinhas” estou fazendo aos poucos. Também não pretendo encher o mundo de produtos, já temos coisas demais. Precisamos controlar melhor a questão do consumo e viver com tranquilidade. Essa é a ideia que quero passar com meu trabalho.
Crédito da foto: Nelson Toledo.
por Angela Debellis