Vamos direto ao ponto: excelente. O poder da voz (Baumbacher Syndrome) é um filme excelente. Claro, a afirmação anterior é resultado de uma impressão e uma análise de quem escreve estas linhas e pode ser compartilhada ou rejeitada pelos outros espectadores. Porém, vamos resumir os motivos da mesma.
A trama apresenta um caso estranho, até assustador: um apresentador de televisão acorda um dia com uma voz densa, muito grave. Em um modo extremo, insólito e quase insuportável. O longa que estreia na plataforma de streaming Cinema Virtual consegue mostrar o medo que produz nos outros personagens, aqueles que podem escutá-lo na ficção do relato cinematográfico. Porém, também chama bastante a atenção de nós, espectadores.
Esse fato excepcional obriga o protagonista, Max Baumbacher, a isolar-se. Inicialmente a não falar com ninguém. Some, evita todo contato com os demais. Isso vai ocasionar um outro fenômeno: os meios de comunicação se aproximam e intentam ter algum contato com ele. O mundo inteiro parece estar interessado neste caso.
O isolamento, por um tempo, é quase absoluto. Só aos poucos vão-se estabelecendo algumas concessões, alguns vínculos. O mais chamativo nos primeiros trechos do filme resulta ser uma entrevista exclusiva concedida a uma emissora de televisão. Isso, em princípio, porque pagará uma quantia enorme, superior às outras, que chegaram de todas as partes do planeta.
O diálogo, que supostamente deveria ser uma conversa “apenas” jornalística, deriva em um denso defrontar-se com diversas e importantes facetas da personalidade de Baumbacher. Também com as principais relações que se deram na sua vida: seus pais, sua esposa, outras mulheres, seu filho, seu representante e amigo, etc.
Sentimentos, introspecção, relacionamentos, sentido da vida, vínculos com a natureza; que é valioso e importante, que não. Por isso, algo desta realização faz lembrar O Homem-Elefante (de David Lynch, assistido em 1980 e que, embora muito teatral, lembramos até hoje).
A atenção do espectador em O poder da voz está direcionada ao protagonista, muito bem representado por Tobias Moretti. Aliás, os outros atores também respondem em modo muito convincente: Elit Iscan, sugestiva e sobriamente eloquente, como Fida, uma jovem que gosta passear pelo mundo para conhecer outras pessoas e, claro, a ela própria. Ingvild Deila como a inteligente jornalista Elle, que procura extrair o mais profundo de Max.
Lenz Moretti, como o filho – isolado, triste, com tendências suicidas. Karoline Schuch, como a atriz famosa e desinibida, do mesmo nome. Kaweh Modiri, o diretor de cinema que pretende realizar um filme sobre Max. Richard Sammel, o agente e amigo. Portanto, a produção tem um elenco de muito bom nível.
Porém, os elogios à obra não param aí. Sobretudo vão para a direção e roteiro, de Gregory Kirchhoff. Sem esquecer dos outros itens técnicos, que colaboram também de modo primoroso: a fotografia de Dino von Wintersdorff, a edição de Andree Fischer, a música de Lucas Zavala.
Tudo conflui para dar jus àquela sucinta qualificação inicial: O poder da voz é excelente.
por Tomás Allen – especial para A Toupeira
*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.