
Com sua adaptação cinematográfica (dirigida por Bong Joon Ho e estrelada por Robert Pattinson) prestes a chegar aos cinemas brasileiros (a estreia está prevista para 06 de março), é possível dizer que “Mickey7” é um livro de ficção científica que consegue mesclar o gênero a situações cômicas de maneira exemplar, uma vez que não parece ter a pretensão de oferecer algo mais aprofundado no que diz respeito ao campo de estudos específicos.
Passada no futuro, a trama da obra escrita por Edward Ashton (que no Brasil contou com a tradução de Aline Storto Pereira e lançamento pelo Selo Minotauro da Editora Planeta) é contada em primeira pessoa, pelo protagonista Mickey7, que, como o nome indica, é a sétima versão de algo: nesse caso, o sétimo clone de Mickey Barnes.
O ex-historiador de trinta e um anos, se vê em situação de fuga da Colônia de Midgard, após uma aposta mal-sucedida que lhe causa uma imensa dívida e o coloca na mira de um perigoso agiota. Para preservar sua vida, ele topa participar de uma missão exploratória que o levará em uma viagem de nove anos até o distante e desconhecido planeta Nilflheim.
A maior parte da narrativa ocorre dentro da nave Drakkar, que conduzirá a tripulação formada por humanos a esse novo destino. E onde descobriremos a real função a ser executada por Mickey, ao aceitar ser um Prescindível: a de enfrentar todo tipo de perigo (dos mais leves aos mais letais), sem que isso o mate – pelo menos não de maneira definitiva.
Tudo graças a um sistema de clonagem que faz uma “reimpressão” de seu corpo e memórias, a cada missão que resulta em sua morte, através de um processo (literal) de reciclagem. Só que, para Mickey8 “nascer”, é preciso que Mickey7 tenha perdido a vida e não é o que acontece.
O personagem é abandonado por seu melhor amigo Barnes e sua namorada Nasha, depois de sofrer uma queda e ir parar no fundo de uma fenda gelada, sob a justificativa de ser perigoso iniciar um resgate.

Quando ele consegue retornar a seu posto, uma nova cópia sua já havia sido providenciada, o que culmina na convivência simultânea (e totalmente proibida) de duas versões de um mesmo prescindível.
Tal impedimento se dá pela dura gestão de Marshall, um ex-militar com ideias religiosas discutíveis e extremistas, que enxerga os clones seres inferiores, que não teriam a alma daqueles que lhes serviram de material genético original.
Com um conteúdo que consegue manter-se interessante do início ao fim, “Mickey7” tem dois pontos que fazem da leitura ainda mais envolvente: um deles é a rapidez com que o leitor toma partido, conforme a interação de Mickey7 e Mickey8 se desenvolve. Embora tenham a mesma matriz, os personagens diferem em atitudes e opiniões, o que seria uma prova de que cada nova cópia teria sua própria singularidade.
O segundo ponto é a introdução dos “Rastejadores” habitantes nativos do planeta Nilflheim, que, se parecem apenas hostis à primeira vista, ganham uma dimensão bem maior quando algumas coisas são explicadas.
Para quem se interessar, “Mickey7” já ganhou uma sequência, “Antimatter Blues”, mas ainda não há previsão / confirmação de que o livro será lançado no Brasil. Talvez a recepção de história nas telonas – e consequentes números significativos de bilheteria – ajudem a aumentar tal possibilidade.
por Angela Debellis
*Leitura feita a partir do livro cedido pelo Selo Minotauro da Editora Planeta