Biografias de grandes nomes da música não são exatamente algo original (o que não significa que sejam desinteressantes). Mas, e se uma ideia à primeira vista improvável mostrasse que é possível acrescentar uma inesperada autenticidade a um material baseado em fatos reais?
Essa é a proposta de “Better Man – A História de Robbie Williams” (Better Man), que chega aos cinemas com uma indicação ao Oscar e vários prêmios na bagagem, para contar a trajetória do músico inglês, representando-o sob a forma de um chimpanzé.
Tal resolução se deu graças à inventividade do diretor Michael Gracey (também responsável pelo roteiro junto a Simon Gleeson e Oliver Cole), que soube transformar em algo único, a declaração do cantor / compositor que afirmou sentir-se como alguém não evoluído, em especial sob os sempre implacáveis holofotes.
A narrativa começa em 1982, na cidade de Stoke on Trent, extremo norte da Inglaterra, e nos apresenta Robbie ainda criança (nessa fase, com a captura de movimentos de Carter J. Murphy) e sua relação de extremo carinho e respeito com Betty (Alison Steadman), sua avó paterna, que parece ser quem mais lhe apoia desde sempre.
O período é marcado pelo abandono do pai, Peter (Steve Pemberton), que deixa a esposa Janet (Kate Mulvany) e o filho Robert para trás, a fim de aventurar-se como comediante de stand-up e pela percepção de que certas coisas estão fora de controle.
Uma primeira passagem de tempo mostra o protagonista (agora com captura de movimentos de Jonno Davies) em 1990, quando entra para a Take That, boy band recém-formada pelo empresário Nigel Martin Smith (Damon Herriman). Esse foi o começo de uma carreira pontuada por extremos: do sucesso absoluto como membro do famoso quinteto, à degradação causada pelo uso excessivo de drogas e álcool.
Existe uma sinceridade pungente em “Better Man – A História de Robbie Williams”. Seria fácil amenizar vários pontos – como a conturbada relação com a cantora Nicole Appleton (Raechelle Banno) – outro nome marcante da década de 1990, membro da banda All Saints – ou as atitudes soberbas com o seu único amigo desde a infância, Nate (Frazer Hadfield). Mas, quanto mais sabemos sobre suas fraquezas, mais admiramos sua força e coragem em recomeçar.
As sequências musicais – sempre inseridas em momentos adequados – são inspiradoras. Seja pela frenética e contagiante coreografia de “Rock DJ”, pelo romance quase palpável de “She’s the one” ou pelas sempre emocionantes “Fell” e “Angels”, todas se encaixam ao que o longa propõe visual e narrativamente, de maneira admirável.
Contudo, é com a canção que dá nome ao filme que Robbie brilha de fato. A confissão de que está fazendo de tudo para ser um “Homem Melhor” conecta o público ao astro cujo passado carrega muitas falhas, mas que soube se agarrar ao que poderia ser sua última chance e hoje em dia leva uma vida bem diferente ao lado da esposa Ayda Field e dos filhos Theodora, Charlton, Coco, Beau.
Que a trilha sonora (cuja canção inédita “Forbidden Road” foi indicada ao Globo de Ouro) seria incrível, já era de se esperar. Então, a grande surpresa se dá pelos efeitos visuais que conseguem proporcionar ao espectador uma experiência, no mínimo, inusitada.
Enquanto nos primeiros momentos ainda nos questionamos sobre a óbvia estranheza de ver um macaco humanoide interagindo com pessoas em tela, logo absorvemos e compramos a ideia. E o que era incomum torna-se singular a ponto de esquecermos qualquer impossibilidade e apenas nos deixarmos envolver pela produção.
Veja na maior tela possível e aproveite o show.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.