Responsável por apresentar a primeira Princesa da Disney – o clássico de 1937, “Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs) teve a missão de dar início à pavimentação do que seria o caminho trilhado por outras inúmeras personagens ao longo dos anos.
Quase setenta anos depois, “Branca de Neve” (Snow White), versão live action da obra, chega aos cinemas com outra proposta relevante: dar mais profundidade à história clássica que encanta de forma natural, mas não esconde sua natureza absolutamente simples.
Escrito por Greta Gerwing e Erin Cressida Wilson, o roteiro mantém a essência original ao contar a história da princesa Branca de Neve (Emilia Faucher na fase criança e Rachel Zegler na fase adulta), que após a perda dos pais torna-se refém de sua madrasta, Rainha Má (Gal Gadot), enquanto sonha com uma vida melhor.
Ainda que siga as ideias centrais da animação, a narrativa não se furta de entregar mudanças bem perceptíveis – sejam nos aspectos visuais ou no texto que carrega novidades que os tornam mais próximos de tempos atuais, sem perder o que transformou a produção em um sucesso atemporal.
Entre as alterações que podem ser mais sentidas pelo público, está o fato já sabido antes mesmo da estreia: os anões humanos agora são criaturas mágicas e surgem como figuras de CGI. Mas, o que poderia ser resumido a um grande problema, acaba se tornando algo aceitável, ao termos a informações de que a floresta na qual vivem é um lugar encantado, então não seria de todo absurdo o local ter habitantes que se afastem de uma representação mais realista.
Além disso, se antes a grande (e única) preocupação de Branca de Neve era com o amor verdadeiro, agora há espaço para mais assuntos, como a recuperação do Reino que herdou de seus pais e a queda da tirania imposta pela Rainha Má. E isso faz com que sua jornada torne-se mais interessante de se acompanhar.
Mas, os românticos podem ficar tranquilos: o nobre sentimento ainda está lá. Sai o Príncipe Encantado, entra o plebeu Jonathan (Andrew Burnap), uma espécie de rebelde / ladrão que luta contra o poder da cruel governante, enquanto crê na sobrevivência do Rei desaparecido em guerra. Mais do que apenas o interesse amoroso da princesa, ele ganha camadas e mais tempo em tela.
Algumas sequências, embora modificadas, seguem cumprindo a missão de encantar, como a que mostra a protagonista próxima ao poço do castelo, enquanto entoa a faixa inédita “Wainting on a Wish” (Um Desejo em Mim) – uma das melhores da nova leva de músicas; e a cena clássica da faxina da casa dos anões, quando os moradores assumem o lugar dos adoráveis (e carismáticos) animaizinhos da floresta, na tarefa de ajudar a princesa a dar um jeito no lugar.
Talvez o elo mais fraco do longa seja sua vilã. Belíssima até o limite, Gal Gadot foi uma escolha acertada para o papel da Monarca invejosa que põe atributos físicos à frente de qualquer coisa no mundo, mas sua presença não sustenta o temor causado por sua representante animada.
A maquiagem para transformá-la na temível Bruxa que oferece a maça envenenada à jovem, não é suficiente para torná-la assustadora e a maior parte de suas ações deixa a sensação de que faltou alguma coisa que pudesse dar a ela o status de memorável.
Desse modo, o maior destaque quando pensamos na antagonista acaba sendo seu figurino. Ao contrário da sua contraparte animada, que aparecia somente com um (icônico) vestido, agora ela ganha um guarda-roupa mais amplo com peças criadas por Sandy Powell (também responsável pelas peças vistas em “Cinderela”, de 2015).
Por outro lado, Rachel Zegler parece ter encontrado o ponto entre a inocência exacerbada da animação e as novidades propostas pelo live-action. Com extrema competência vocal e uma boa presença em tela, a atriz cumpre o papel com dignidade e faz com que o público torça para que a personagem tenha êxito em todas as áreas.
Sobre a trilha sonora, assim como os demais elementos do filme, esta oferece canções inéditas escritas por Jeff Morrow, Benj Pasek e Justin Paul, que se adequam à proposta. E acerta ao reconhecer a importância de se fazer acenos a músicas originais como “Heigh-Ho” (Eu vou) e “Whistle While You Work” (Aprenda uma Canção).
No geral, vale muito a pena dar uma chance a “Branca de Neve”. Se não é uma adaptação impecável em cada detalhe, a verdade é que a maioria das mudanças não chega a prejudicar a história, pelo contrário: faz que seja mais relevante e tenha mais conteúdo, sem perder o fascínio da singeleza tradicionalmente imposta em 1937 – o que, dadas as circunstâncias e exigências de hoje em dia, é algo quase mágico.
por Angela Debellis
*Título assistido em cabine de Imprensa promovida pela Walt Disney Studios Br.