Dirigido e roteirizado por Teddy Lussi-Modeste, “O Bom Professor” (Pas des Vagues) mergulha nas tensões sociais e culturais de uma escola, ao acompanhar Julien (François Civil), um jovem professor que busca estabelecer um vínculo genuíno com seus alunos.
Ambientado em um colégio marcado por conflitos internos, o enredo começa a se desenrolar a partir de sua atenção especial a Leslie (Toscane Duquesne), o que desencadeia rumores e mal-entendidos entre os estudantes. O que começa como uma preocupação educacional logo se transforma em um dilema de proporções criminais.
O grande mérito da película é a sua capacidade de transmitir uma sensação de veracidade. A história, que ressoa com situações do cotidiano e casos que frequentemente ganham destaque na vida real, é bem estruturada e consegue prender o espectador ao ilustrar a fragilidade das relações interpessoais no ambiente escolar.
Teddy Lussi-Modeste constrói uma narrativa envolvente, utilizando-se de uma direção de atores sensível, especialmente François Civil. Sua interpretação de Julien é de grande destaque, sendo capaz de transmitir de maneira contundente os medos, frustrações e os conflitos internos do personagem, quando seus esforços pedagógicos parecem se voltar contra ele.
A direção de Lussi-Modeste também faz uso de closes intensos, trazendo à tona uma sensação de claustrofobia social que coloca o espectador no lugar de Julien, refletindo a angústia de um profissional cujo objetivo altruísta entra em choque com as percepções distorcidas que os outros têm dele. A tensão cresce à medida que as maledicências se espalham pela escola, criando um ambiente sufocante e opressor.
Entretanto, “O Bom Professor” deixa a desejar em alguns aspectos, por exemplo, no tratamento de temas como a homossexualidade de Julien. Embora o filme insinue aspectos da sexualidade do protagonista, este assunto é pontuado de forma superficial e jamais é explorado de maneira mais profunda, o que poderia ter dado uma camada adicional à trama.
Além disso, em alguns momentos, o ritmo parece arrastado, com a história repetindo fórmulas já bastante conhecidas no cinema, sem trazer elementos novos ou uma perspectiva mais inovadora sobre a questão.
Fora essas limitações, a grande força do filme reside na excelente performance de François Civil, que carrega a narrativa nas costas. A reflexão proposta sobre os desafios contemporâneos na educação e nas relações interpessoais é relevante e necessária.
Ainda que o longa peque por sua superficialidade, não conseguindo aprofundar-se nas questões que aborda de forma mais impactante, oferecendo uma reflexão importante, porém limitada.
por Artur Francisco – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Mares Filmes