Seja ao bater o dedo do pé em uma quina ou devido a um tropeção que resulta em um tombo, todos já tivemos momentos em que pensamos como seria bom se não sentíssemos dor. Mas, essa ideia é válida até certo ponto, afinal, qual seria o limite para nos colocarmos em situações de risco, se não houvesse nenhum indício de que isso causaria incômodo ou poderia nos levar a óbito?
A trama de “Novocaine – À Prova de Dor” (Novocaine) nos apresenta Nathan Caine (Jack Quaid), um simpático gerente assistente de uma Cooperativa de Crédito em San Diego. Diagnosticado ainda na infância com CIPA (Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose), ele sabe exatamente o que fazer (ou não) para evitar problemas que poderiam ser fatais a alguém com essa condição.
O que significa que o protagonista leva uma vida, no mínimo, sem graça, já que nem mesmo alimentos sólidos fazem parte de sua rotina, pois haveria o risco de morder a própria língua e não ter a menos consciência do fato (até notar alguma consequência mais grave).
Mas, a rotina do rapaz – cuja maior emoção se limita a jogar partidas on line com um amigo que nem mesmo conhece pessoalmente- muda por completo, com a chegada de sua nova colega de trabalho, Sherry Margrave (Amber Midthunder).
Uma paixão avassaladora (a princípio com todas as chances de ficar estagnada no espaço do platonismo) faz com que Nathan não hesite em abraçar a ideia de enfrentar “pequenas batalhas” na vida real. O que ele não imaginava é que algo muito maior estaria por cruzar seus caminhos.
Às vésperas do Natal, a Cooperativa é assaltada por um violento trio que não se contenta apenas com o dinheiro do cofre. Liderado pelo sarcástico Simon (Ray Nicholson), o grupo leva Sherry como refém.
Isso desperta em Nathan uma coragem que beira a inconsequência. Com a imensa vantagem de não sentir nenhum tipo de dor ou temperatura, o jovem de corpo esguio e nenhuma habilidade de luta ganha contornos de “Super-Herói” ao decidir dar início a uma busca às cegas pera resgatar a garota que ganhou seu coração.
Se até esse momento, o longa dirigido por Dan Berk e Rober Olsen tinha jeito de comédia romântica, o que vemos em tela agora é uma guinada digna dos melhores filmes de ação. O roteiro de Lars Jacobson se vale da ideia de transformar a condição genética que roubou anos de experiências da vida de Nathan em uma espécie de super-poder. A maldição se torna uma benção – ou algo próximo a isso.
Com essa nova premissa estabelecida, o que se oferece é um festival de sequências bem executadas, que vão de lutas mais “simples” a armadilhas e torturas elaboradas, com direito a perseguições de carro e fugas mirabolantes. Tudo regado a inúmeras lacerações / fraturas / queimaduras, sangue em profusão e decisões que podem não doer no personagem, mas que deixam o espectador de olhos serrados e com a boca seca de aflição.
Tudo graças a um excepcional trabalho de maquiagem que faz do gore e do body horror – subgêneros que voltam aos holofotes com merecimento – seus maiores trunfos. A história da produção ganha – e muito – ao fazer uso desses recursos.
Também vale destacar a ótima trilha sonora que traz nomes bem ecléticos, como R.E,M., The Darkness e Chicago, pontuando cada momento – seja triste, frenético ou romântico – de maneira impecável.
Despois de “Acompanhante Perfeita”, Jack Quaid estrela mais uma grata surpresa de 2025, que mesmo com ares de obviedade em boa parte da narrativa, ainda consegue arrebatar o público com boas reviravoltas.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paramount Pictures.