Nesta quinta, 29, na abertura da XVI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, o “Café Literário”, principal espaço de discussões do evento, deu início à sua programação com bate-papo sobre o atual panorama do boom literário ocorrido nos primeiros anos do século 21.
Na mesa “Novos tempos, novos escritores”, mediada pelo jornalista e editor Paulo Roberto Pires, o português Nuno Camarneiro, revelação da literatura portuguesa contemporânea, vencedor do Prêmio Leya de 2012 pelo romance “Debaixo de algum céu”, se juntou a Noemi Jaffe, de “O que os cegos estão sonhando”, Vinicius Jatobá, selecionado pela revista Granta como um dos melhores autores brasileiros com menos de 39 anos, e o goiano Wesley Peres, que acaba de lançar “As pequenas mortes”.
Os autores dividiram com o público suas visões sobre o processo criativo e como se dá a aproximação com o leitor em tempos de internet. “Com a web o retorno é imediato, o que é ótimo. Tenho um blog, no qual escrevo pequenas crônicas poéticas, e por dele conheço pessoas que acompanham o meu trabalho e recebo críticas. É possível fazer um uso inteligente de canais como blogs e o Facebook”, afirma Noemi Jaffe.
Na segunda sessão do primeiro dia, “A poesia do século XXI”, representantes da ala mais performática do gênero – o alemão Bas Böttcher e os brasileiros André Vallias e Ricardo Domeneck – se encontraram para uma conversa sobre essa “nova poesia”, que, híbrida, reúne códigos escritos, orais e visuais. Para Böttcher, conhecido por suas participações em campeonatos de slam poetry, a forma e o conteúdo são inseparáveis. “A maneira como algo se apresenta muda completamente sua compreensão. Posso cochichar uma palavra ou gritá-la e, cada uma das vezes, ela ganhará um significado diferente”, diz.
A tecnologia também entrou em pauta. Segundo o escritor e artista visual Ricardo Domeneck, as inovações na área configuram um retorno à tradição dos trovadores medievais, do texto oral aliado à performance visual. André Vallias, designer gráfico e poeta, completou: “A computação permitiu a integração total das linguagens escrita, falada e corporal”.
O “Placar Literário”, novidade desta Bienal, foi inaugurado com discussão sobre futebol, literatura e museus. Rosa Maria Araújo, do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, e Leonal Kaz, do Museu do Futebol em São Paulo, acreditam que, cada vez mais, os museus despertam um sentimento de nacionalidade e liberdade.
Na mesa “Enfim, os museus”, com mediação do jornalista Pedro Butcher, Rosa Maria enfatizou a importância dos museu como fruto de seu tempo, conectando o passado e o presente. Segundo ela, a intenção do Museu Imagem do Som é se tornar tanto um espaço para o encontro dos cariocas como referências para turistas. Leonel Kaz, por sua vez, acredita que o museu é um lugar onde o público precisa estar presente de corpo e alma. “E cada olhar é sempre uma descoberta para aquilo que aparentemente é o mesmo” afirma.
O primeiro dia da Bienal contou também com a estreia da jornalista Bianca Ramoneda como curadora do “Mulher e Ponto”. A mesa inaugural sintetizou bem o espírito das discussões dedicadas a temas do universo feminino: o cartunista Miguel Paiva e a jornalista Cristiane Costa participaram de uma conversa descontraída que desconstruiu o conceito do espaço: “Coisas de mulher?”.
da Redação A Toupeira