Crítica: “Finalmente Livres”

O cinema francês tem se mostrado cada vez mais atual em suas produções, e “Finalmente Livres” (En Liberté!) deixa claro que é possível fazer drama e comédia sem perder o ar sofisticado e misterioso da França e seu vasto território rico em paisagens surreais.

O longa dirigido e roteirizado por Pierre Salvadori traz logo em sua primeira sequência, uma perseguição policial cheia de contradições e pontos cegos, afinal tudo não passa de uma encenação das histórias que Yvonne (Adèle Haenel) – uma detetive local – conta para seu filho todas as noites antes deste dormir.

A trama se passa em uma singela cidade na Riviera Francesa, e a realidade em si não é tão diferente das histórias contadas por Yvonne, talvez apenas um pouco menos exorbitantes. As cenas de ação ao longo do filme são bem realistas, cortes muito bem feitos acompanham o roteiro de forma simbólica: há quem possa se confundir e até mesmo acreditar estar assistindo a um filme de ação, mas se reparar nos detalhes da história, o humor se faz presente a todo momento.

Após descobrir que seu falecido esposo não era tão bom e honesto quanto ela acreditava, Yvonne inicia uma saga em busca de redimir-se pelos erros cometidos por Santi, seu ex-marido. Ao se deparar com Antoine (Pio Marmai) um dos prejudicados por Santi, a detetive passa a ter dias agitados.

Antoine parece ter sido afetado mentalmente após anos de prisão, e passa a encarar a vida com certa intensidade e de forma agressiva, tirando o sono de sua esposa Agnès (Audrey Tautou) a quem não consegue convencer muito de estar totalmente recuperado da carceragem.

O humor e o drama se encontram por diversas vezes, o ar de mistério e preocupação apresentado constantemente por Yvonne ao tentar ajudar Antoine, resulta em cenas cômicas onde a jovem detetive acaba se complicando cada vez mais, por causa de Antoine.

Adèle, dá um show de interpretação beirando a realidade. Quem não conhece outros trabalhos da atriz, pode pensar que ela é daquela forma, destrambelhada e um tanto reservada, mas, se lembrarmos de “A garota desconhecida” – produção de 2016, na qual a atriz vivia totalmente o oposto de Yvonne – podemos afirmar que ela está em uma ótima fase de sua carreira.

O cenário dramático fica por conta de Agnès, uma mulher apaixonada e um tanto saturada de tantas preocupações por conta de seu marido problemático, a quem dedicou parte de sua vida, o que lhe deixou cada dia mais deprimida e insegura sobre seu casamento.

Este filme é o que podemos chamar de “dramédia”, um melodrama de altíssimo nível que merece ser visto pelo público e aclamado por seu potencial cinematográfico altamente qualificado, desde o elenco, ao texto e a qualidade de imagens apresentadas em seus 108 minutos de duração.

Se está procurando por algo diferente, inovador e bem-humorado “Finalmente Livres” é uma ótima indicação, vale muito a pena assistir.

por Pompeu Filho – especial para A Toupeira

Filed in: Cinema

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