“Contrapor” (Contradict) é um documentário roteirizado e dirigido pelo cinematógrafo e diretor Peter Buyer e pelo etnomusicólogo Thomas Burkhalter.
O filme segue o dia-a-dia de cinco artistas da atual cena cultural ganense atual – Adomaa, Akan, Motumbo da Poet, M3NSA, Wanlov The Kubulor e Worlasi – enquanto estes produzem músicas e videoclipes.
Um dos grandes problemas com documentários em dias modernos é focar-se nos comentários e conclusões dos documentaristas, geralmente apontando uma visão externa do que é tratado em tela.
Ao contar com a participação de um etnomusicólogo – uma espécie de antropólogo da música – a produção desvia-se desta tendência comum, dando sinal verde para que os artistas ganenses possam expor suas perspectivas da Gana atual e seu futuro, em várias áreas, como artes, cultura, política e religião, o que gera certos argumentos que podem soar polêmicos para habitantes de outros países – ainda mais se a presença cultural é muito influenciada pela cultura europeia ou americana.
A obra não fica presa às visões e ideologias de seus músicos e dá um panorama geral de Gana, seus problemas atuais, como a pobreza, o alastramento do protestantismo influenciado pelo televangelismo americano – o mesmo que também se alastra no Brasil – sexismo, e racismo.
Sendo assim, o filme consegue dar um panorama externo e interno da realidade ganense, trazendo um retrato mais complexo do que outros documentários se preocupariam em mostrar. Com isso, permite que o espectador crie sua própria imagem de Gana, e aufira seu próprio significado da produção, sem ficar diretamente martelando a visão dos diretores.
Nos aspectos técnicos, o longa é excelente. A fotografia é muito boa, com uma sensibilidade considerável, mostrando as dicotomias do dia-a-dia de Gana. Uma coisa muito notável é a fotografia utilizada nos clipes produzidos pelos músicos, em sua maioria, contando com uma qualidade invejável para muitos, dentro e fora do país.
“Contrapor” mostra o quanto se desconhece sobre Gana, em particular em outros continentes. Mesmo que se saiba que lá não se mora em árvores ou cabanas – o que um dos músicos comenta sobre a visão dos estrangeiros – ainda é uma realidade extremamente apartada para os brasileiros em geral. Mas assistindo a este documentário é possível perceber claros paralelos entre Brasil e Gana.
Desta forma, é uma interessante peça cinematográfica, que discorre muito bem sobre a realidade de um país que muitas vezes passa despercebido na maioria dos radares de quem mora na América, ainda que com suas semelhanças em vários dos componentes deste continente.
Sendo assim, para quem gosta de expandir suas perspectivas culturais e musicais, e conhecer um pouco mais da cultura e sociedade fora dos centros americanos e europeus de cultura, “Contrapor” – que faz parte da programação do 8º Panorama Digital do Cinema Suíço – é muito indicado.
por Ícaro Marques – especial para A Toupeira