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Crítica: “Notre Dame”

Em abril de 2019, o mundo testemunhou atônito o trágico incêndio que ocorreu na famosa catedral de Notre Dame em Paris. O terrível evento poderia inspirar várias obras tristes e melancólicas sobre esse monumento da capital francesa.

Entretanto a diretora, roteirista e atriz Valerie Donzelli optou por homenagear a catedral nos brindando com uma comédia deliciosa que, entre risos e trapalhadas, discute temas recorrentes e polêmicos na sociedade contemporânea.

Na trama de “Notre Dame” (Notre Dame) acompanhamos a arquiteta Maud Crayon (Valerie Donzelli), que vive uma vida caótica dividida entre cuidar de seus dois filhos sozinhas, lidar com um ex-marido parasita e infantil e trabalhar em um emprego abusivo e pouco estimulante

Diante a tudo isso, sua vida muda de maneira abrupta no momento em que é selecionada como vencedora de um concurso promovido pela prefeitura, que consiste em coordenar um projeto arquitetônico que visa reformar o pátio da catedral de Notre Dame. Porém, esse evento que deveria trazer estabilidade financeira e notoriedade ao seu trabalho, acaba deixando sua vida ainda mais caótica.

O humor do longa se ancora justamente nas situações absurdas que permeiam a rotina da protagonista em diversos momentos. Tais situações ocorrem simplesmente porque Maud não consegue se impor às pessoas tóxicas que estão ao seu redor – por meio dessas situações o roteiro se aventura a discutir temas delicados como o papel da arte, a sexualidade feminina, o conservadorismo e a construção familiar, e o interessante é como aborda tais assuntos de forma bem-humorada, sem ser panfletário.

Em determinadas cenas, o filme flerta com o fantástico e o surreal, e para ilustrar esses momentos a diretora usa outras linguagens artísticas como teatro e a dança. Essa curiosa abordagem homenageia a arte como um todo e consegue se integrar de forma orgânica na narrativa cômica da produção, sendo pontual o suficiente para se fazer presente sem destoar com os momentos mais dramáticos presentes na trama.

Outros elementos que valem destacar são as escolhas assertivas da trilha sonora e a fotografia do longa. Ambos os elementos colaboram massivamente com a construção da atmosfera divertida que a obra busca, complementando e se adaptando às diferentes abordagens que narrativa propõe.

Em linhas gerais, “Notre Dame” não reinventa a roda quando se trata de humor, entretanto entrega um belo trabalho no que se propõe a fazer, que é nos divertir com um humor que varia entre a sofística do pastelão, enquanto discute temas delicados de uma forma leve.

Uma comédia deliciosa que consegue nos envolver e entreter, sem nos desconectar das questões sociais que nos circundam.

por Marcel Melinsk – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine Virtual promovida pela California Filmes.

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