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Crítica: “Men – Faces do Medo”

Poucas coisas são mais perturbadoras do que a ideia de generalização de um assunto – seja ele qual for – ainda mais no que diz respeito a experiências pessoais. A ideia de que “Todos os homens são iguais”, muito em evidência, ampla – e às vezes equivocadamente – discutida em tempos atuais, é levada ao pé da letra no novo filme da A24, “Men – Faces do Medo” (Men).

A trama dirigida e escrita por Alex Garland é protagonizada pela recém-viúva Harper (Jessie Buckley), que após a imprevisível /chocante morte de seu marido James (Paapa Essiedu), parte de Londres em busca de refúgio em uma casa isolada no interior do país.

Tal imóvel pertence a Geoffrey (Rory Kinnear), figura que transita entre uma aparentemente exagerada cortesia e a estranheza absoluta. Ainda que cortês à primeira vista, o personagem carrega uma desconfortável aura de dúvida.

Seguindo a direção contrária de todas as normas básicas para sobreviver a um filme de terror, Harper sai para caminhar nas redondezas – o que inclui embrenhar-se em uma floresta que só não é deserta graças à presença de um misterioso homem nu, cujas intenções não ficam claras de imediato, despertando a impressão de tratar-se apenas de alguém com problemas mentais e condições financeiras precárias.

Se tal passeio não foi promissor, do mesmo modo não é a visita que a protagonista faz à pequena igreja local, onde encontra um vigário cujo comportamento em nada se equipara ao esperado por pessoas que ocupam esse posto, enquanto também tem uma experiência problemática envolvendo um adolescente – que assusta tanto pela própria expressão, quanto pela opção em usar uma desinteressante máscara genérica que simula o rosto de Marilyn Monroe.

Nesse ponto, já está estabelecida a espiral de dúvida na qual o espectador é mergulhado gradativamente, graças ao terror psicológico proposto por Alex Garland. Os flashbacks do passado de Harper (exibidos por trás de um filtro vermelho alaranjado que incomoda e dá o tom necessário às imagens) e a sucessão de fatos inesperados que acontecem durante sua estadia na casa alugada vão afunilando o espaço entre a personagem e o público, beirando o que seria sufocante.

Tudo isso, através de uma surpreendente ótica voltada às bases do cristianismo (recurso também utilizado no polêmico “Mãe”, de Darren Aronofsky), com direito á clara alusão ao pecado original, representado, como nas obras clássicas, sob a forma do fruto da frondosa macieira consumido sem autorização.

Com uma proposta ampla (mas com sua base calcada no folk horror e no body horror), “Men – Faces do Medo” não se explica por completo em nenhum momento e as mesmas sequências podem ser interpretas de maneiras distintas por quem as vê. Em especial as que encerram o longa, cuja explanação gráfica torna-se incômoda em alguns momentos, pelo que é mostrado em tela.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes.

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