O monge capuchinho Medardo, narrador para lá de carismático, revela aos leitores como foi que se envolveu num mistério contra a sua vontade. Após tomar um gole de um vinho suspeito, ele deixa o mosteiro em que vive, abandona o hábito e vai a Roma.
Na jornada, uma espécie de busca pela própria identidade que não cessa de fragmentar-se, Medardo se depara com uma série de figuras curiosas, desde aristocratas, passando por um excêntrico peruqueiro, até o Diabo em pessoa, segundo ele.
Confronta-se também com seu duplo em algumas ocasiões, e a ambiguidade dos personagens assume contornos literários que dão à história, já muito intrigante, nova camada de complexidade narrativa que atrai ainda mais ao desfecho.
O tema do duplo foi explorado por muitos autores, como os clássicos Dostoiévski em seu romance O duplo e Edgar Allan Poe em seu conto “William Wilson”, que comprovadamente leram Hoffmann.
Os elementos fantástico, gótico e detetivesco estão todos em Os elixires do Diabo, também. Características do Romantismo, período a que essa obra se vincula, aparecem em abundância, como na personagem feminina Aurélia, elevada ao status de santa e salvadora; e na presença constante da figura diabólica, mefistofélica, o que em parte, aliás, aproxima a obra ao Fausto de Goethe, autor contemporâneo a Hoffmann.
Os elixires do Diabo comporta muito. Estejam seus constituintes em plena excelência de forma ou em moldes embrionários, fato é que a força da realidade entra em contato com o poder da imaginação, o terreno liga-se ao excelso, e o resultado é uma polifonia que representa a vida como só os clássicos conseguem-na representar. Livro para ler, reler e colocar na lista de livros favoritos de nossos autores prediletos.
Ficha Técnica:
Título: Os elixires do Diabo
Autor: E.T.A. Hoffmann
Tradução, prefácio e notas: Maria Aparecida Barbosa
Texto de orelha: Sabrina Sedlmayer
ISBN: 978-65-86068-62-7
Formato: 14 x 21 cm / 368 páginas
Preço: R$ 68,00
da Redação A Toupeira