Crítica: “OS Fabelmans”

Quando pensamos em cinema, há no imaginário diversas figuras importantes, sejam filmes marcantes, trilhas sonoras impactantes, cenas memoráveis, atrizes e atores impecáveis em suas atuações.

Porém, o destaque do diretor sempre é pouco lembrado, principalmente quando falamos de pessoas que não compreendem ou não se interessam tanto pela parte técnica de um filme.

Ao lado do roteirista, o diretor é o alicerce de qualquer história cinematográfica, criando vida, espírito e emoções. E poucos diretores são conhecidos na história pela sua trajetória magistral, impactante, que transcende gerações. E claro, um dos mais conhecidos por esses feitos é Steven Spielberg.

Em “Os Fabelmans” (The Fabelmans), Spielberg decide explorar a sua origem como cineasta, numa espécie de autobiografia, que vem se tornando recorrente em Hollywood. Com sua liberdade criativa, ele conta a história da família Fabelman pelo olhar de Samuel “Sammy” Fabelman em duas principais fases: interpretado quando criança por Mateo Zoryan; e adolescente pelo ótimo Gabriel LaBelle.

O longa é sobre Spielberg, afinal, ele além de dirigir também o co-roteiriza, assim como seu personagem, começando em sua primeira ida ao cinema ainda quando criança assistindo ao clássico “O Maior Espetáculo da Terra”, em uma época que a magia desta indústria era realmente mágica, com homens gigantescos nas telas e efeitos manuais que faziam todos acreditarem que era verdade. E é a partir dali que o amor pelo sétima arte surge no garotinho, que logo é incentivado por sua mãe Mitzi, interpretada por Michelle Williams, brilhantemente.

Para amantes do cinema, o drama biográfico enche os olhos ao entregar os sutis detalhes de uma produção de filme, ainda que caseiro, trazidos por Sammy. Muito lúdico e apaixonante, como ver um pequeno rolo de película sendo cortado manualmente e fixado com cola para criar-se então uma narrativa visual.

Além disso, é impossível não se emocionar ao reparar as referências a títulos que no futuro se tornaram obras-primas das telonas como “O Resgate do Soldado Ryan” e “E.T – O Extraterrestre”.

“Os Fabelmans” é muito pessoal, muito íntimo, mas ao mesmo tempo desafiador e não deixa em momento algum tornar-se cansativo, enfadonho ou enrolado. Por 151 minutos, é possível entreter-se, rir, chorar e chocar-se com tudo que vem à tona na tela, do jeito que apenas Steven Spielberg é capaz de fazer.

Com isso, vem também os ensinamentos sobre uma era passada. De um certo ponto de vista, o diretor aqui passa não apenas um filme em tela, mas uma aula sobre cinema e seus riscos. Sobre o poder de brincar de Deus e guiar emoções do público, e mostra que há também os riscos no caminho ao fazer isso, que podem levar a escolhas difíceis – frase essa alertada pelo tio avô de Sam, Boris, numa participação especial e marcante de Judd Hirsch.

Mas, entre todas as interações do protagonista com sua família, a mais marcante é entre sua mãe Mitzi e seu pai Burt, interpretado muito bem por Paul Dano. A construção, a narrativa envolvendo os três, carrega uma sinergia muito bem aplicada ao longo da produção, culminando num final não apenas simbólico, mas dramático.

Ao fim de “Os Fabelmans”, Steven Spielberg faz uma alusão ao seu próprio futuro que fecha com chave de ouro a narrativa e a jornada de seu personagem. É fácil dizer que este é um dos melhores títulos do diretor nos últimos anos, destacando-se ao lado de “Munique” (2006). E, sem dúvida, uma passagem obrigatória ao cinema para ser apreciado.

por Artur Francisco – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

You might like:

UCI faz maratona de terror com ingressos por R$ 12 UCI faz maratona de terror com ingressos por R$ 12
Seattle Supersonics já está no Brasil para tour histórica do “Tribute of Nirvana” Seattle Supersonics já está no Brasil para tour histórica do “Tribute of Nirvana”
Aniversário de 200 anos do autor da primeira HQ do Brasil é destaque em mostra na Biblioteca Nacional Aniversário de 200 anos do autor da primeira HQ do Brasil é destaque em mostra na Biblioteca Nacional
Editora Estação Liberdade anuncia o lançamento de uma coletânea bilíngue de contos de Franz Kafka Editora Estação Liberdade anuncia o lançamento de uma coletânea bilíngue de contos de Franz Kafka
© AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.