Crítica: “Amigos Imaginários”

Algumas frases nos marcam tanto que, de tempos em tempos, retornam à nossa memória, a fim de nos lembrar do motivo de serem tão maravilhosas. É o caso de uma citação de autoria incerta que, mais uma vez, cabe perfeitamente para ilustrar meu pensamento: “Não paramos de brincar porque envelhecemos. Envelhecemos porque paramos de brincar”.

A trama de “Amigos Imaginários” (IF) nos apresenta Elisabeth (Cailey Fleming) – ou simplesmente “Bea”, como prefere ser chamada por questões sentimentais – uma menina de 12 anos, que após perder a mãe muito cedo, vê-se diante de um quadro preocupante de saúde de seu pai (interpretado por John Krasinski, que também é roteirista e diretor do filme).

Durante o período de internação do pai, a menina se hospeda na casa da avó materna (papel de Fiona Shaw). O local carrega muitas memórias de uma época que, por mais que tenha sido repleta de amor, também lhe traz uma dor que ela tenta esconder sob a triste declaração de “não ser mais criança”.

O que ela não sabe é que certas magias permanecem, mesmo que o tempo seja implacável. Tal afirmação ganha força quando ela descobre que no apartamento do vizinho de cima, Cal (Ryan Reynolds), vivem os mais incríveis personagens que a imaginação infantil poderia criar.

Os “protagonistas” desse improvável grupo são Blue (voz de Steve Carell, na versão original e Murilo Benício, na versão brasileira) – uma imensa criatura de pelo roxo macio e um dos sorrisos mais sinceros que já vi – e Blossom (Phoebe Waller-Bridge / Giovanna Antonelli), uma formosa borboleta com roupa de bailarina e aparência vintage.

A história dos Migs (como são conhecidos os Amigos Imaginários) é comovente: ao tornarem-se adultos, as crianças que os imaginaram não precisam mais deles (ou assim julgam), perdem a capacidade de vê-los e simplesmente os “descartam”.

E eles passam o resto de seus dias em busca de outra dupla. Mas, a tarefa é bem mais difícil do que pode parecer. Caberá a Bea e Cal, a valorosa missão de juntar os Migs a outras crianças que deles necessitarem como apoio emocional.

Se a narrativa fosse apenas essa, para mim já seria o bastante. Mas, há uma reviravolta tão graciosa nessa proposta, que consegue tornar o que já era incrível, algo ainda melhor. É o ponto que nos leva a crer que, como dito em determinado momento da produção, “as histórias mais importantes que temos para contar são as que contamos para nós mesmos”.

As aparências e personalidades singulares dos Migs, a parceria entre Bea e Cal (que mesmo sendo um adulto, ainda consegue ver os frutos da imaginação infantil), as pequenas histórias paralelas que iluminam o caminho até o fim do filme. Sob a delicada trilha sonora de Michael Giacchino, tudo se encaixa e resulta em uma das produções mais emocionantes e acalentadoras dos últimos tempos.

É lindo acompanhar a evolução de Bea, à medida que se envolve com as expectativas de cada Mig. Assim como é louvável a sutileza do roteiro ao tratar de temas mais pesados – mas, bem pertinentes – como luto, abandono e crescimento.

“Amigos Imaginários” é o tipo de obra que encanta nossos olhos e faz bem às nossas almas. Daquelas que precisamos, de vez em quando, para que a rotina da vida adulta não endureça demais nossos corações.

E eu, que gosto tanto de frases repletas de significado, acrescentei mais uma à minha sempre crescente lista: “Nada que é amado pode ser esquecido”.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paramount Pictures.

Filed in: Cinema

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