Crítica: “Mufasa: O Rei Leão”

Não importa quanto tempo se passe, quantas renovações de geração aconteçam, há um tópico que segue relevante no cerne de nossa existência (e que foi amplamente debatido em várias produções em 2024): é possível afirmar que alguém nasce mau ou essa condição se manifesta devido a influências externas durante a vida?

Há 30 anos, através de “O Rei Leão” – que segue entre os melhores títulos dos Estúdios Disney – conhecíamos os irmãos Mufasa e Scar e tínhamos a sensação de que havia uma linha bem nítida estabelecendo o mocinho e o vilão da história.

Tal imagem permanece verdadeira, mas em “Mufasa: O Rei Leão” (Mufasa: The Lion King), sabemos os detalhes prévios que levaram até os fatos vistos na animação. E isso significa que há várias e importantes nuances em cada atitude dos personagens.

Na trama, acompanhamos Mufasa ainda filhote (nessa fase, com a voz de Braelyn Rankins na versão original e Lorenzo Tarantelli na versão nacional), vivendo ao lado de seus pais, Afia (Anaki Noni Rose / Amanda Vicente) e Masego (Keith David / Max Grácio). Até que um acidente provocado por uma enchente faz o leãozinho se separar de sua família, enquanto luta pela própria sobrevivência.

Quando tudo parece perdido, uma pata se agarra a ele e lhe dá esperança novamente. Seu salvador atende pelo nome de Taka (nessa fase, com as vozes de Theo Somolu / Cauê Enzo), o jovem príncipe do Vale dos Reis. Mas, o governante do local, Obasi (Lennie James / Wellignton Lima), não aceita a presença de um “desgarrado” e condena órfão a conviver apenas com as fêmeas, entre elas, sua companheira, Eshe (Thandiwe Newton / Letícia Soares), a gentil mãe de seu filho.

Contra qualquer ordem ou expectativa do soberano, cria-se um forte elo entre Mufasa e Taka, que passam a considerarem-se irmãos, com o respeito, admiração e carinho sobrepondo-se à legitimidade de laços de sangue.

A chegada dos “Forasteiros”, uma alcateia de leões brancos liderada por Kiros (Mads Mikkelsen / Fábio Azevedo), coloca a segurança de todos em risco. O que impõe uma fuga desesperada dos protagonistas, que partem em busca de Milele, um refúgio desacreditado por muitos, mas que promete ser um lugar no qual seria maravilhoso habitar.

A jornada pelo continente africano mostra-se repleta de perigos, mas também de boas surpresas, como o encontro com Sarabi (Tiffany Boone / Luci Salutes) – futura mãe de Simba, e o calau Zazu (Preston Nyman / Arthur Berges) – conselheiro alado da princesa. Assim como o grupo se enriquece com a chegada de Rafiki (nessa fase, com as vozes de Kagiso Lediga / Eduardo Silva), o sábio mandril xamânico que se tornará braço direito durante o vindouro reinado de Mufasa.

É durante essa viagem que as identidades de Mufasa (Aaron Pierre / Pedro Caetano) e Taka (Kelvin Harrison Jr, / Hipólyto) ganham os contornos definitivos. Enquanto o que não tem nenhum título de nobreza mostra-se digno e capaz de assumir um posto de liderança, o que vem de uma linhagem real deixa-se consumir pela inveja e não nega a covardia que domina seu coração. No final, talvez a base de nosso caráter já nasça conosco, mas são as escolhas que fazemos que o moldam de vez.

Dirigido por Barry Jenkins, o longa é visualmente impecável. Problematizada por alguns, à época do lançamento do live action “O Rei Leão”, a suposta falta de expressões foi resolvida e os animais ganham um ar mais cartunesco, equilibrando-se entre a veracidade esperada em uma produção do gênero e o “exagero delicado” que dá o tom correto a figuras que têm sua origem em uma obra animada.

A trilha de Lin-Manuel Miranda mantém a qualidade característica da franquia e entrega faixas maravilhosas, como a romântica “Tell me it’s you”, a graciosa “I always wanted a brother” e a impactante “Bye Bye”. Além da comovente “Milele”, a que mais tocou meu coração.

Na trama escrita por Jeff Nathason, a história é narrada pelo experiente Rafiki (John Kani / Bukassa Kabengele), que a conta para a pequena Kiara (Blue Ivy Carter / Morena Machado) – primogênita de Simba  (Donald Glover / Ícaro Silva) e Nala (Beyoncé Knowles / Iza), enquanto tenta diminuir o medo que ela tem de tempestades.

Junto a eles, a querida dupla formada por Timão (Billy Eichner / Ivan Parente) e Pumba (Seth Rogen / Glauco Marques) é responsável por dar ao filme os necessários momentos de respiro, principalmente, entre as passagens mais “duras”, quando a verdadeira natureza de Taka – já sob a alcunha de “Scar” – vai se revelando.

No significado de “Milele”, um resumo de toda a grandeza e majestade merecidamente ostentada por “Mufasa: O Rei Leão”: “Para Sempre”.

por Angela Debellis

*Título assistido em cabine de Imprensa promovida pela Walt Disney Studios Br.

Filed in: Cinema

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