De modo geral, “Inteligência” é um tema cuja relevância é duradoura. Sejam as discussões acerca da capacidade mental humana, de animais de outras espécies – ou em um contexto mais atual, o equivalente ao intelecto em máquinas – o interesse gerado é inegável.
Ainda mais no que diz respeito à aparentemente infinita capacidade dos seres humanos de criar, a partir de sua (in)capacidade criativa, situações que provoquem desconforto em seus semelhantes. Talvez o topo da cadeia evolutiva não esteja nas melhores mãos.
A narrativa de “Acompanhante Perfeita” (Companion) gira em torno dos namorados Iris (Sophie Thatcher) e Josh (Jack Quaid). Um excelente monólogo inicial pontua a construção do relacionamento, que à primeira vista, parece formado por minúcias dignas de contos de fadas.
Contudo, por mais que haja uma aura romântica ao redor dos dois, é visível que há muito mais empenho e dedicação por parte de Sophie, que nos dá a sensação de ser – de maneira literal – dependente das vontades e anseios de Josh.
Os indícios de um vínculo problemático ficam ainda mais evidentes quando os protagonistas são convidados a passar uns dias em uma casa de campo isolada, ao lado de outros dois casais: o proprietário do local, Sergey (Rupert Fried) e sua namorada / amante, Kat (Megan Suri); o expansivo Eli (Harvey Guillén) e seu apaixonado companheiro Patrick (Lukas Gage).
E o que era para ser uma viagem de lazer acaba se tornando uma experiência regada a violência, traições e descobertas que colocarão em jogo o que se sabia sobre cada elemento ali presente.
Roteirizada e dirigida por Drew Hancock, a produção que inicia como um romance trivial faz uma escalada progressiva em direção ao thriller e, torna-se ainda mais brilhante quando envereda para a ficção científica (dentro de um limite que a mantém “crível”).
Parte desse avanço é revelado nos materiais promocionais do filme. Mas, acredite: ainda que pareça um grande spoiler, é justamente a partir dessa premissa que as melhores coisas e reviravoltas acontecem e ela é essencial para atrair a atenção de quem espera mais do que apenas uma história sobre relações controversas.
O jeito como as coisas evoluem em tela é impressionante. Tudo é estabelecido com competência, fazendo com que o espectador assuma sua torcida por um determinado lado, sem que haja nenhuma dúvida sobre isso. Afinal, como tão bem explanou o poeta e escritor alemão Charles Bukowiski, “É possível amar o ser humano caso você não o conheça tão bem”.
Calcado em detalhes cruciais, que vão da escolha impecável de figurinos, à discussão sobre os limites da ética, “Acompanhante Perfeita” consegue o feito de divertir, surpreender e torna-se uma das melhores opções para conferir nos cinemas nesses começo de ano.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.