Crítica: “A voz que resta”

Tem cara de vídeo arte. Também parece cinema experimental, só que não é. Sua narrativa é mais para linear que não linear. Agonia, porém, com certo humor. A entonação da voz do jornalista arruinado, Paulo (Gustavo Machado), é desesperadamente a mesma em todo o filme.

Uma aposta arriscada, que às vezes, agrada, e em outros momentos, repele. O alto contraste faz lembrar esteticamente o início do cinema expressionista, mas sem o ser.

“A voz que resta” é a história de um jornalista decadente, que em uma derradeira noite, embriaga-se, e passa madrugada toda discorrendo sobre suas dores, por estar apaixonado por sua vizinha casada, e por se sentir consumido por ela.

Usando recursos arcaicos, como gravador de fita K7 e máquina de escrever, vai registrando uma carta suicida à Marina (Roberta Ribas), da qual conhecemos praticamente apenas a sua silhueta, tentando provar que ela será a única culpada por aquele ato.

O roteiro de Vadim Nikitin, a partir de sua peça homônima, traz um texto sorrateiro e contundente, mas que se oculta atrás de uma opção apenas etílica de interpretação. Tem o perfil goste ou odeie, e assim segue mexendo com as emoções do público.

Paulo relembra momentos com Marina, em flashes nostálgicos, onde a sedução e a obsessão parecem ser apenas sexuais. O carinho fica para o marido – grande rival e causador de inveja. O desejo de posse e o pensamento homicida revelam o limite que todo ser humano normal é capaz de ter.

Eliminar o outro parece ser mais fácil do que controlar nossos sentimentos. A maioria desiste no pensamento seguinte, mas uns poucos (talvez muitos) seguem adiante, por causa do crescente nos últimos tempos.

O tempo de duração (102 minutos) salva a proposta, é na medida. Não poderia ser mais, e, não menos. Preenche-nos com seu suficiente possível.

Atuado e dirigido por Gustavo Machado e Roberta Ribas, “A voz que resta” é um longa para não se ver numa madrugada solitária, e nem em estado de embriaguez, mas é uma obra de muitos questionamentos, desde sua inspiração até o seu argumento final.

por Carlos Marroco – especial para A Toupeira

*Titulo assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Pandora Filmes.

Filed in: Cinema

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