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Crítica: “Desconhecidos”

Em linhas gerais, é válido dizer que thrillers optam por esconder (enquanto podem) as informações mais relevantes, a fim de criar uma tensão crescente nos espectadores.

No caso de “Desconhecidos” (Strange Darling), esse recurso não parece ter a mesma importância, já que logo nos primeiros momentos, temos acesso a imagens que nos levam a construir uma linha de pensamento imediatamente, quase como se todas as informações fossem entregues de bandeja.

Mas erguer o longa sobre uma base de aparente obviedade será a real intenção do diretor / roteirista JT Mollner ou há algo mais por trás disso?

Ao som de uma versão do clássico de Nazareth, “Love Hurts” (aqui interpretada por Z Berg feat. Keith Carradine), a narrativa passada em Oregon e composta por seis capítulos é contada de forma de não linear.

Um detalhe curioso e bem funcional é que os nomes dos protagonistas nunca são revelados: a personagem feminina (Willa Fitzgerald) é definida nos créditos como “A Mulher” e o homem (Kyle Gallner) ganha a alcunha de “O Demônio”.

Embora seja o primeiro encontro do casal, este parece ter uma estranha intimidade, aceitando determinadas imposições com uma ânsia que beira o limite do que seria aceitável. O que logo culmina em ações que condizem com o histórico de um serial killer procurado há anos por sua ação em diversos estados americanos.

Instaura-se uma corrida pela vida de “Mulher”, enquanto vemos “Demônio” demonstrar uma raiva progressiva e uma violência que se equipara a ela. Algumas sequências são bem explícitas e ajudam a lapidar a ideia que o roteiro deseja passar (mesmo que possam soar como desnecessárias para alguns).

A opção por contar a história em uma ordem que não a natural é tão arriscada, quanto esperta. Ao fazer certas revelações já na metade do filme, corre-se o risco de perder o interesse dos espectadores, mas também arrisca incitar ainda mais a curiosidade de saber até aonde os fatos conseguirão avançar. Tudo vai depender do quanto o público estiver envolvido.

A falta de coadjuvantes (o casal ocupa a tela por quase a totalidade da duração de 96 minutos) não cria uma aproximação dos personagens principais com a plateia – e talvez nem seja esse o intuito. Mas funciona para gerar uma sensação de constante desconforto, como se algo limitasse não só o espaço físico, mas as possibilidades emocionais.

Vendido com a ideia de ser uma espécie de experimento cinematográfico (o que o coloca em um local, no mínimo, perigoso de se estar), “Desconhecidos” é mais um daqueles casos em que se trabalha com limites opostos: alguns vão considerá-lo uma obra-prima criativa, enquanto outros tenderão a achar que as mesmas escolhas o transformam em um título que poderia entregar bem mais do que se vê.

por Angela Debellis

*Título assistido em Sessão Regular de Cinema.

**Distribuição no Brasil feita pela Paris Filmes.

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