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Crítica: “Bolero: A Melodia Eterna”

Algumas pessoas são tão geniais que podem passar a vida toda sem ter a real dimensão de seu potencial – por mais que este seja reverenciado por tantos ao seu redor.

Parece ser o caso do compositor e pianista francês Maurice Ravel, responsável por uma das mais famosas criações da música clássica, cujos acordes, mesmo após quase cem anos, seguem encantando admiradores do gênero, a ponto de um dado revelar que, a cada quinze minutos, ela é executada em algum ponto do mundo.

A trama de “Bolero: Melodia Eterna” (Bolero) se passa em Paris, entre os anos de 1903 e 1937, e nos apresenta o inseguro musicista Maurice Ravel (Raphaël Personnaz), cujo talento é tão grande quanto suas próprias dúvidas a respeito dele.

Ao aceitar, em 1928, o pedido da coreógrafa e dançarina russa Ida Rubenstein (Jeanne Balibar), para compor a melodia de seu próximo espetáculo de balé, o protagonista – que enfrentava um grande bloqueio criativo, não fazia ideia do que estava por vir. O que começou com a intenção de adaptar uma peça pré-existente, culminou na criação original do que seria sua obra-prima: o “Bolero” que dá nome ao filme.

Enquanto acompanhamos o processo (por vezes dando a impressão de ser quase doloroso) da concepção da música, descobrimos o que há por trás da enigmática figura do compositor que nunca se permitiu demonstrar sentimentos abertamente, vivendo uma rotina solitária e sem grandes emoções.

A paixão não tão velada (porém nunca concretizada) pela pianista Mísia Sert (Doria Tiller), irmã de seu melhor amigo, Cipa (Vincent Perez) é seu ponto de maior vulnerabilidade. Ao mesmo tempo em que dá a sensação de ser o que o traz de volta quando, como ele mesmo diz, perde-se em sua música.

Dirigido por Anne Fontaine (também responsável pelo roteiro, junto a Claire Barré), “Bolero: A Melodia Eterna” tem um ritmo marcado e categoricamente rígido, tal qual se exige dos integrantes de uma orquestra, ou, neste caso, do elenco. Mas – e talvez por isso mesmo – consegue exercer uma espécie de fascínio sobre o espectador, que se vê cada vez mais envolvido pela crescente e inebriante melodia que atravessa gerações e segue intocada em sua beleza.

A qualidade de seu trabalho, a quase obsessiva busca pela perfeição, o reconhecimento após duros reveses no começo de sua trajetória. Tudo faz com que torne-se ainda mais difícil ver Maurice Ravel sofrendo com uma doença cerebral que não lhe tirou a inteligência, mas causou graves problemas motores, o que o impediu de continuar trabalhando com aquilo que mais amou: a música.

Há uma grande sabedoria na escolha das sequências iniciais e dos momentos que encerram a produção. Mostrar o quanto Bolero continua sendo impactante, em todas as suas incontáveis versões, sob as mais diferentes óticas, talvez seja o mais adequado para celebrar a carreira do artista.

Um homem que sabia que a música estava nele, que era ela quem decidia. Alguém que se entregou a esse severo (e por vezes, injusto) relacionamento, para, assim como suas composições, tornar-se eterno.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Mares Filmes

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