Quando um filme é baseado em fatos reais, tudo em sua trama ganha uma dimensão diferente. No caso de um drama com o peso de “12 Anos de Escravidão” (12 Years a Slave), a coisa fica ainda mais complicada e é muito improvável que alguém, com o mínimo de sensibilidade, consiga sair impassível ao término da sessão.
O longa – assim como o livro no qual foi baseado – nos apresenta a triste história de Solomon Northup, cidadão americano nascido livre, que vê sua tranquila vida ao lado da esposa e filhos desmoronar, ao ser sequestrado e vendido ilegalmente como escravo.
As cenas que se seguem a partir desse fato são inacreditáveis. A maneira como os escravos são tratados desde sua captura, como são “avaliados” parecendo mercadoria inanimada, o desdém para com seu mínimo bem-estar na sacrificada jornada de trabalho, tudo nos leva a crer que, para alguém que se diz tão racional, ainda falta muito para o ser humano ser detentor desse título.
Com um elenco impecável em mãos, o diretor Steve McQueen consegue encontrar o equilíbrio necessário para que várias nuances de sentimentos surjam durante a exibição. Em vários momentos, o horror causado pelas ações dos “senhores de escravos” e respectivos capatazes, dá lugar à emoção pura e genuína, provocada pela simplicidade encontrada por homens, mulheres e crianças, para sobreviver às provações diárias a que são submetidos.
Todos merecem destaque, mas a dupla formada pelo protagonista Chiwetel Ejifojor e pela coadjuvante Lupita Nyong’o é daquelas que aparecem para nos lembrar o quão gratificante pode ser assistir à interpretações desse porte. Mérito também para Michael Fassbender, que sem o menor esforço, faz de seu rico fazendeiro, um dos vilões mais facilmente odiáveis das telonas.
É preciso ter coragem para ver a produção mais de uma vez. Ainda que já conheçamos seu teor, a aflição pelo impacto das cenas e a óbvia torcida para que, apesar de tudo, o final seja tão feliz quanto possível, não diminuem. Talvez seja exatamente esse tipo de sentimento, essa compaixão pelo semelhante, que faltem à boa parte das pessoas, quase duzentos anos depois dos acontecimentos que deram origem à biografia de Solomon (um dos melhores livros que já tive oportunidade de ler) e a esse filme, que imprime seu nome de forma definitiva na história do cinema mundial.
Imperdível.
por Angela Debellis