Crítica: “A Menina e o Dragão”

Quantas possibilidades maravilhosas existem no universo das animações. E como é bonito quando a fantasia se torna mais do que um elemento narrativo, para virar um dos pontos fundamentais na trama a ser contada.

Fruto da união de estúdios espanhóis e chineses, “A Menina e o Dragão” (Dragonkeeper) é baseada no livro homônimo da autora australiana Carole Wilkinson, lançado em 2003 – mas ainda inédito no Brasil.

A história passada na China Imperial, durante a Dinastia Han, nos apresenta Ping (voz de Lucía Péres na versão original e Bella Chiang, na versão nacional), uma garotinha que, após ser abandonada ainda bebê, é acolhida por Mestre Lan (voz de César Diaz), um comerciante de índole e atitudes duvidosas.

Quem cuidará dela é a gentil Lao Ma (Isabel Gaudí), que há muitos anos trabalha como criada e não vê outro destino para Ping, crendo que as coisas são assim e não se pode mudar o destino (o que não deixa de ser uma visão triste da vida).

Mas, há algo de mais intenso no coração da pequena protagonista, que acaba entrando em contato com os últimos dragões imperiais vivos, Long Danzi (voz de Mario Gas) e Lu Yu (Yolanda Portillo). Conhecidos como “Honoráveis Convidados”, eles são mantidos acorrentados em uma espécie de cativeiro, longe dos olhos humanos, após a dissolução de uma antiga aliança forjada entre dragões e bruxos.

Obviamente, a razão dessa quebra de parceria se dá pela onipresente ganância das pessoas, que não saber lidar como ninguém que lhe seja diferente. Ainda mais se isso envolver algum poder que não lhe seja de direito.

Após esse inesperado encontro, Ping terá uma longa jornada em busca do controle de seu Chi, tido na filosofia chinesa como a energia espiritual que nos conecta a todas as criaturas. Enquanto busca por essa iluminação, a menina também deverá agir em favor do último ovo de dragão, a fim de evitar que este caia em mão erradas – neste caso, o antagonista Mestre Diao (voz de Fernando Castro), o que traria resultados terríveis.

Escrita pela própria autora da obra original, Carole Wilkinson, além de Pablo I. Castrill, Ignacio Ferreras, Rosanna Cecchini e Xianping Wang, a narrativa consegue o feito de ser simples o suficiente para atrair a atenção das crianças menores, ao mesmo tempo em que carrega uma profundidade que deve ser notada apenas pelos espectadores mais velhos.

A necessidade de ser acreditar em si mesmo, a coragem para continuar seguindo em frente (mesmo quando as adversidades mostram-se crescentes), a sabedoria em entender que nem sempre as coisas sairão como desejamos. Ensinamentos que parecem tão triviais, mas que, na prática, às vezes se mostram mais complicados do que na teoria.

Embalada pela belíssima trilha original de Arturo Cardelus (com destaque para “In Ancient Times”, canção-tema da obra) e sob a direção de Jianping Li e Salvador Simó, “A Menina e o Dragão” não percorre o mesmo caminho de animações mais populares e isso é um de seus pontos mais positivos.

Ao assumir o risco de manter um ritmo próprio (que, em alguns momentos, pode ser visto como mais lento do que usualmente acontece nesse tipo de produção), respeitando a beleza e a importância de elementos históricos e culturais, o longa ganha uma identidade única, que o transforma em algo muito mais do que apenas diferente ou interessante.

2024 tem sido um ano excepcional para as animações (tanto no cinema, quanto na televisão) e “A Menina e o Dragão” é mais um ótimo acréscimo ao gênero.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.

Filed in: Cinema

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