Crítica: “A Musa de Bonnard”

Ver um artista por trás de sua obra pode ser uma faca de dois gumes. Para um amante seu trabalho, a sua vida pode ser um desastre, uma decepção. Já para alguém desinteressado, indiferente, pode transformar-se em uma venerada e maravilhosa obra, um encanto tardio.

Em “A Musa de Bonnard” (Bonnard, Pierre et Marthe), Pierre Bonnard é contado de uma forma íntegra, dentro do que se pode imaginar que assim seja para o próprio pintor, honesto com seus sentimentos. A história começa quando Bonnard (Vincent Macaigne) conhece sua futura, única e eterna musa, Marthe de Méligny (Cécile de France).

A paixão dos dois é contagiante, é um amor incandescente de adolescente, em um casal já maduro. Sua obra, delírios, deslizes sempre compartilhados com a amada, que, mesmo com saúde frágil soube se impor e expor.

Sua arte transborda à medida que essa chama inapagável intensifica a liberdade e a libertinagem. Surge então, Renée (Stacy Martin), uma aluna da escola de artes, sua nova musa, num primeiro momento acolhida, e dividida com Marthe.  Num futuro próximo, Marthe é enganada, e abandonada por aquele que tanto a amava, e que a trocou por um descartável amor.

Pierre não consegue pintar sem sua musa, seu amor verdadeiro. Retoma a realidade e corre atrás do tempo perdido. Daí para frente é emoção pura. Tristeza e alegria nos invadem alternadamente.

Vincent Macaigne merece destaque, pois sua interpretação ao longo do filme é de tamanha perfeição. Poucos atores conseguem interpretar seus personagens mais velhos com tamanha naturalidade e originalidade como ele. É impressionante sua construção para Pierre Bonnard idoso, e não é pela ajuda do visagismo, que foi sutil, mas por seu talento, trabalho e dedicação à arte de interpretar.

“A Musa de Bonnard” tem o roteiro e direção de Martin Provost, que merece muitos aplausos pelo bom gosto e sensibilidade. Mais de duas horas de produção, que parecem vinte minutos. É tão belo que não se percebe o tempo passar. O final é emocionantemente triste, mas sublime.

por Carlos Marroco – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela California Filmes.

Filed in: Cinema

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