Crítica: “A Vingança de Cinderela”

Algumas histórias têm potencial suficiente para gerarem os mais diversos (e interessantes) conteúdos. Ao pensarmos em Cinderela, é provável que a primeira imagem que chegue à mente da maioria das pessoas seja a da princesa de contos de fadas, que há décadas encanta gerações com sua peculiar escalada à vida que merece, após passar por situações tristes e humilhantes.

Com a liberação da personagem para domínio público, ela se tornou uma espécie de figura bem vista em produções de terror atuais. Ou pelo menos é o que parece, já que “A Vingança de Cinderela” (Cinderella’s Revenge) é o segundo título focado nela, em 2024.

Escrito por Tom Jolliffe e sob a direção de Andy Edwards, o filme tem como base a tradicional narrativa que mostra Cinderela (Lauren Staerck) sendo tratada levianamente por sua madrasta Katherine (Stephanie Lodge), assim como por Josephine (Beatrice Fletcher) e Rachel (Megan Purvis), filhas da vilã principal. Após a morte de Arthur (Mike Kelson), pai da protagonista, o trio se vê no auto-proclamado direito de subjugar a jovem, sem lhe dar uma chance de defesa.

E isso é visto nas sequências que exibem as punições injustas de maneira bastante explícita. Esses, talvez sejam os momentos em que o horror, de fato, dá as cartas, já que, como sempre, o sobrenatural / fantástico / mágico segue sem fazer sombra à maldade inata do ser humano “comum”.

Para dar um pouco de alento à Cinderela, surge sua Fada-Madrinha (Natasha Henstridge), que tem uma magia bastante peculiar e surpreendente. Alguns acontecimentos proporcionados por sua varinha de condão são totalmente inesperados e trazem um timing de comédia que se encaixa muito bem na proposta.

Uma das cenas mais importantes da história acaba sendo uma de suas maiores fraquezas, já que é preciso uma boa dose de boa vontade para deixar passar certas deficiências técnicas (claramente causadas pelo orçamento modesto) vistas durante o baile real promovido pelo príncipe James (Darrell Griggs) – sim, aquele mesmo que vai se apaixonar pela moça misteriosa que vai embora durante as doze badaladas do relógio deixando um sapatinho de cristal para trás.

E, por falar no acessório, além de sua importância já conhecida para o desenrolar da narrativa, ele, mais uma vez, acaba ganhando contornos de arma letal – o que é bem legal de se ver nessas leituras slashers de contos infantis. Também é elemento crucial em uma cena que remete à versão original (e mais cruel) do clássico literário, cuja representação sempre acrescenta força à ideia de limites para se conquistar um objetivo.

Assim como uma assustadora máscara que, mais do que ocultar a face de Cinderela, serve para esconder sentimentos contraditórios – que podem não ser os mais adequados a uma pretensa princesa, mas são perfeitos para alguém que merece se vingar de todas as injustiças que já sofreu.

Pessoas de coração ruim não merecem consideração ou piedade. E, embora eu ponha em dúvida algumas ações pontuais, sigo defendendo Cinderela.

Observação: Vale ficar atento a um aceno muito rápido a outro personagem querido da literatura infantil que caiu em domínio público também e deve render produções futuras bem peculiares.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela A2 Filmes.

Filed in: Cinema

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