Crítica: “Adão Negro”

A realidade atual é que os chamados “15 minutos de fama” podem ser alcançados através de míseros 30 segundos que “viralizem” no mundo da Internet, criando celebridades instantâneas (cuja relevância é tão efêmera quanto o tempo que lhes é concedido).

Com esse pensamento posto, é quase inacreditável o fato de que foram necessários 15 anos para que “Adão Negro” (Black Adam) ganhasse espaço nas telas. Felizmente, Dwayne Johnson (que dá vida ao protagonista, além de ser um dos produtores executivos do filme) vem de uma geração em que o imediatismo não ditava as regras, e insistiu no projeto, por acreditar em sua capacidade. Ele sempre esteve certo.

A história da produção dirigida por Jaume Collet-Serra se passa em sua totalidade no fictício país árabe de Kahndaq. O que muda são as épocas da ação: parte ocorrida 2600 anos A.C., parte em dias atuais.

A introdução (com trechos divulgados em trailers e vídeos oficiais) nos mostra a origem do personagem que dá nome à obra. Nascido escravo e assim mantido durante a vida toda, Teth Adam – tal como Billy Batson em “Shazam!”– recebe os poderes dos deuses antigos e transforma-se em uma figura quase imbatível, forjada pela fúria e movida pelo desejo de vingança, após a perda de sua esposa Shiruta (Odelya Halevi) e de seu filho Hurut (Jalon Christian). Até ser encarcerado em uma espécie de tumba forte o bastante para mantê-lo impossibilitado de usar suas habilidades.

Quase 5000 anos depois, a escravidão no país ganha outra conotação, sob a tirania imposta pela chamada Intergangue, organização criminosa que oprime o povo e destrói qualquer chance de progresso local. Tal poder só não é absoluto, porque as ruínas da cidade ainda escondem um perigoso artefato místico: a Coroa de Sabbac, criada para o Rei Akenaton (Marwan Kenzari), responsável pelo ódio cego de Teth Adam e uma de suas primeiras vítimas.

Para impedir que a milícia ponha as mãos em tal objeto, entra em cena a arqueóloga Adrianna Tomaz (Sarah Shahi), que acaba – não intencionalmente – trazendo o protagonista de volta à vida, com a crença de que o antigo herói escolhido pelos deuses será capaz de salvar Kanhdaq das mãos dos mercenários que não hesitam em fazer a população sofrer.

Mas, Teth Adam não é o que podemos chamar de herói (pelo menos não de acordo com a “cartilha” que conhecemos). Por outro lado, é impossível classificá-lo como vilão (embora essa seja sua origem nos quadrinhos criados em 1945 por Otto Binder e C.C. Beck, e passe tal primeira impressão também no cinema).

Ou seja: Adão Negro é mais uma ótima aquisição para os chamados Anti-Heróis, aqueles que sabem que as coisas não funcionam de maneira tão radical e conseguem enxergar as áreas mais cinzentas que se escondem entre as tomadas drásticas de decisão.

Essa postura fica mais evidente com a chegada da Sociedade da Justiça da América, que, sob orientações precisas de Amanda Waller (Viola Davis) vai até o continente africano, a fim de capturar o personagem. Para realizar tal missão, o grupo é liderado por Carter Hall / Gavião Negro (Aldis Hodge), que conta com a preciosa ajuda do veterano Kent Nelson / Senhor Destino (Pierce Brosnan) – ambos entre os maiores acertos da produção – e pelos novatos Al Rothstein / Esmaga Átomo (Noah Centineo) e Maxine Hunkel / Ciclone (Quintessa Swindell).

Mas, quando uma nova ameaça surge, é o momento de deixar interesse pessoais de lado e pesar prós e contras de uma inusitada (porém urgente e necessária) união de poderes para evitar que um mal de proporções inimagináveis domine a humanidade.

Seja pela imensa lacuna de tempo entre a confirmação do filme e sua real execução, seja pela qualidade do material no qual se baseia (os valorosos quadrinhos da DC), o fato é que tudo em “Adão Negro” funciona. Se em dado momento, Dwayne Johnson domina a tela e diz nunca ter afirmado que era um herói, isso também vale para o fato da produção jamais ter se vendido como um artigo profundo e causador de reflexões.

O roteiro de Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani pode parecer simples (talvez até o seja), mas é tão competente no que se propõe que casa perfeitamente com a proposta de ação desenfreada vista nos 124 minutos de duração do longa (com direito à imperdível cena adicional).

E isso é algo que pode desagradar quem espera pelo quase sempre inalcançável “algo mais”, mas que satisfaz quem procura por momentos empolgantes e que até mesmo nos fazem sentir uma pontadinha no coração ao pensar que figuras da ficção seriam tão úteis no mundo em que vivemos.

Como destaques finais, fica a menção à ótima interação entre Adão Negro e Amon (Bodhi Sabongui). O filho pré-adolescente de Adrianna é quem incentiva o anti-herói a assumir o papel que lhe cabe e quem mostra a ele o quanto há de similaridade / diferença entre os tempos antigos e atuais. E a excelente trilha sonora Lorne Balfe, que amplifica a emoção presente em cada bem executada sequência.

Forte. Grandioso. Único. Como um bom título baseado em quadrinhos de heróis deve ser. Como a realização do ambicioso e aguardado projeto de Dwayne Johnson merece ser.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.

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