Há muitos casos em que dizer adeus é das missões mais complicadas. Saber que “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (Batman: The Dark Knight Rises) marca o final da melhor franquia de heróis já feita para os cinemas até hoje, é um desses momentos.
O estilo do diretor Christopher Nolan já é visível desde o início do longa, e a apreensão que tomava conta de meu coração de fã começou a dar espaço à expectativa de ver um espetáculo realmente digno do Homem- Morcego.
A trama se passa oito anos depois dos fatos de “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e mostra uma Gotham City em tempos de paz, através da aprovação da Lei Dent, que colocou atrás das grades de Black Gate centenas de criminosos.
Harvey Dent (Aaron Eckhart) é visto como herói morto em prol da cidade. Batman como o vilão que a sociedade continua pronta para punir a qualquer momento. Ou seja, nada é o que realmente parece…
O auto-exílio de Bruce Wayne (Christian Bale) tem fim com o aparecimento de duas novas ameaças: Bane (Tom Hardy) e Mulher-Gato (Anne Hathaway). Está mais do que na hora de voltar à ativa e mostrar porque o ícone das HQ’s tem tanta popularidade e admiradores há mais de 70 anos.
Se o Coringa (Heath Ledger) era alguém que queria apenas ver o circo pegar fogo, ou como ele mesmo dizia, “um agente do caos”, dessa vez o mal é mais visceral, o embate físico pode causar tantos – ou mais – estragos que o psicológico. Bane é uma força a ser temida, alguém genuinamente inclinado a dizimar uma população de 12 milhões de habitantes, sem o menor peso na consciência.
Por outro lado, Selina Kyle (a Mulher-Gato, que em nenhum momento é chamada assim) é uma ladra de gostos refinados, que faz questão de deixar claro sua preferência em roubar apenas os mais abastados. Talvez algo como um Robin Hood, mas trajando macacão de couro e saltos altíssimos.
Nomes fundamentais nas produções anteriores estão de volta. O mordomo Alfred (Michael Caine), porto seguro de Bruce Wayne, surge com importância maior do que nunca e protagoniza cenas que comoverão até os mais durões. Lucius Fox (Morgan Freeman), peça chave na execução prática das ações do protagonista, novamente se mostra lúcido e firme na hora de tomar decisões que poderão mudar os rumos da história. E o Comissário James Gordon (Gary Oldman), que ao longo desses anos de reclusão do herói mascarado, também teve que “vestir uma máscara” ao defender a memória de Harvey Dent – mesmo sabendo o que o alter-ego Duas Caras pretendia matar seu filho, não fosse pela prestigiosa intervenção de Batman.
Mas novos personagens também mostram a que vieram. Então, prestem muita atenção à empresária Miranda Tate (Marion Cotillard) e ao jovem policial Jonh Blake (Joseph Gordon-Levitt). Se a princípio podem parecer “coadjuvantes de luxo”, conforme a trama é apresentada, essa impressão cai por terra.
Ao longo de 2 horas e 45 minutos, é fácil esquecer que estamos numa sala de cinema. Ao apagarem-se as luzes, nos tornamos cidadãos de Gotham City, sofremos com sua aflição, corremos contra o tempo e esperamos pela aparição daquele que, mais uma vez, será o salvador.
Da maneira como Nolan encerra a produção, é difícil imaginar que algo novo possa ser feito a partir desse ponto. Ao mesmo tempo em que gostaria que muito ainda fosse mostrado, lembro-me da marcante frase do filme anterior e aceito a decisão do diretor de encerrar a franquia enquanto o sucesso e a aceitação por parte do público são quase plenos, afinal, “ou se morre como herói ou vive-se o bastante para se tornar o vilão”…
No mundo mítico dos heróis, há homens que são super, mulheres consideradas uma maravilha, quartetos ditos fantásticos, gênios mal-humorados porém incríveis e jovens espetaculares. Mas somente um pode ser tudo isso, contando apenas com a força de seu corpo mortal e a imensidão da dor de sua alma. Só um homem pode ser o Batman.
por Angela Debellis