Crítica: “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”

Nasci entre o concreto da cidade grande, acostumada (mas não conformada) com a seriedade de seus prédios e o caos barulhento e poluente de seu trânsito. Esse quadro era facilmente esquecido quando, ainda criança, abria um gibi do Chico Bento e, automaticamente, era transportada até um lugar onde o ar era mais puro, as frutas tiradas diretamente do pé mais gostosas e a inocência era trivial.

Foi para esse tempo e lugar que me senti retornando desde a primeira cena de “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, novo longa do universo criado por Mauricio de Sousa que estreia nos cinemas evocando o que há de mais bonito na infância: a naturalidade com que lidamos com o que nos aflige, sem perder a esperança de resolver a questão.

Responsável pelos belíssimos “Turma da Mônica: Laços” e “Turma da Mônica: Lições”, Daniel Rezende agora ocupa o cargo de produtor, enquanto a direção fica a cargo de Fernando Fraiha (que também escreve o roteiro inédito junto a Elena Altheran e Raul Chequer).

Como nos quadrinhos, a trama se passa na área rural – na tranquila Vila Abobrinha – e mostra nosso querido protagonista Chico bento (interpretado pelo impecável Isaac Amendoim), antes mesmo de chegar ao mundo, quando ainda era esperado por seus pais, Dona Cotinha (Lívia La Gatto) e Nhô Bento (Guga Coelho).

Seguindo uma tradição familiar, no dia de seu nascimento, uma árvore seria plantada; Mas, por um capricho do destino, a semente escolhida foi parar nas terras de Nhô Lau (Luis Lobianco). Lá floresceu e deu vida a tal Goiabeira do título, tornando-se alvo do garotinho que nutre uma grande paixão por seus frutos – mesmo que, para obtê-los, tenha que enfrentar a fúria de seu vizinho.

Anos depois, a chegada do “progresso” coloca em risco a relação estabelecida entre humano e natureza, quando o Coronel “Dotô” Agripino (Augusto Madeira) e seu filho único, Genesinho, (Enzo Henrique) propõem a criação de uma estrada que, supostamente, melhoraria a vida dos habitantes locais. Porém, o asfalto deveria atravessar a propriedade de Nhô Lau, sendo necessário arrancar a Goiabeira.

Caberá a Chico Bento impedir tal fato. Para isso, contará com a ajuda da doce Rosinha (Anna Julia Dias), seu primeiro amor; do divertido Zé Lelé (Pedro Dantas), seu primo e melhor amigo; dos colegas de escola e vizinhança, Hiro (Davi Okabi) e Zé da Roça (Guilherme Tavares) e da nova moradora da Vila, Tábata (Lorena de Oliveira).

Como já era de esperar de uma história do personagem (criado em 1961 e que segue muito atual até os dias de hoje), a proposta é bem simples, mas, ainda assim, repleta de camadas. É nítido o cuidado ao tratar de assuntos relevantes / sérios como o desmatamento, a intervenção daqueles que não se preocupam com nada além de lucros próprios e a necessidade de se ter um ensino de qualidade (pautas tantas vezes colocadas de lado na sociedade contemporânea).

Tudo funciona no filme, desde a sequência inicial – que conta com a adorável participação da Vó Dita (Thais Garayp), sempre disposta a contar um de seus causos às crianças. Existe uma naturalidade tão grande no que se vê em tela, que imediatamente nos sentimos parte da turma, uma peça a mais na defesa da árvore.

E, mesmo dentro dessa simplicidade, há espaço para surpresas que devem fazer boa parte do público sorrir / chorar, ao pensar na importância de se dar valor a coisas / pessoas que passam e deixam marcas em nossas vidas.

Débora Falabella (como a Professora Marocas) e Taís Araújo (como “Dona Goiabeira”) completam o elenco que é um dos maiores acertos da produção, trazendo ao live-action – perfeita e fielmente – os personagens aclamados nas páginas das revistas. Tudo sob a fotografia de Gustavo Hadba e a trilha sonora de Fábio Góes que tanto acrescentam ao produto final.

Com uma continuação já confirmada, “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” é daquelas obras para se levar no coração. E para rever quando precisamos nos reconectar com nossa criança interior que sabia dar valor a amizades verdadeiras, a uma fruta recém-colhida e a tudo que acreditávamos ser o certo a ser fazer.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Biônica Filmes.

Filed in: Cinema

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