Crítica: “Creed III”

À primeira vista, pode parecer difícil desvencilhar a imagem de Creed a de Rocky Balboa, já que a – agora estabelecida – franquia teve como base os filmes do personagem imortalizado por Sylvester Stallone.

Mas, a boa notícia é que a trajetória de Adonis Creed (Michael B. Jordan, que também estreia como diretor) mostra-se forte o suficiente para trilhar um interessante caminho próprio, uma vez que não conta com nenhuma aparição do veterano lutador de boxe (triste, mas não comprometedor).

A trama de “Creed III” começa mostrando fatos ocorridos em 2002, quando um ainda adolescente Adonis (nessa fase interpretado por Thaddeus J. Mixson) vê seu melhor amigo e promissor boxeador Damian Anderson (nessa fase vivido por Spence Moore II) ser preso.

Uma rápida retrospectiva da carreira do protagonista nos ringues culmina nos dias atuais, quando, após optar pela aposentadoria ainda no auge, passa a ter uma nova rotina que implica em passar mais tempo com sua filha Amara (Mila Davis-Kent), tentar encontrar uma brecha na agenda profissional da esposa Bianca (Tessa Thompson) e agenciar o atual Campeão dos Pesos Pesados, Felix “El Guerrero” Chavez (Jose Benavidez). Além é claro, de assinar os mais diversos contratos publicitários, como todo ex-atleta de renome costuma fazer ao encerrar suas atividades.

As coisas mudam com o retorno de Damian (Jonathan Mayors) a Los Angeles, após o cumprimento de uma sentença de 18 anos de cadeia em regime fechado. Junto a ele, fatos do passado de Creed ganham perigosos contornos que podem levá-lo a ter que enfrentar sombras que sempre tentou esconder de si próprio e daqueles que ama.

Se a Damian cabe o título de antagonista, é importante dizer que o personagem é complexo o bastante para que, em boa parte da produção, consigamos até mesmo simpatizar com ele – dada a força de seu questionamento sobre o que poderia ter vivido e conquistado, caso não tivesse sido condenado à prisão.

Em dado momento do longa, o trecho de uma canção afirma não ser possível se esquecer da chuva, enquanto ainda ouvimos o trovão. Tal analogia cabe perfeitamente ao pensarmos na impossibilidade de deixar o passado para trás, quando elementos insistem em mantê-lo vívido, não só em nossas lembranças, mas em nosso momento atual.

A junção de culpa, incapacidade de perdoar a si mesmo e competência posta em dúvida transforma Creed no adversário ideal para Damian, o que faz com que as cenas de luta – em especial as que contam com a participação dos dois – sejam um dos grandes destaques do filme. Muito bem utilizado, o artifício da câmera lenta ressalta a fórmula da vitória, que coloca, no lugar da força absoluta, o controle e a atenção como fatores preponderantes.

O boxe, é claro, continua sendo o pilar da franquia, mas cabe dizer que o roteiro de Ryan Coogler, Keenan Coogler e Zach Baylin consegue manter a qualidade vista nos títulos anteriores, ao mostrar todo o resto que acontece fora das quatro linhas do ringue e que rege as histórias díspares daqueles que chegaram a se considerar tão próximos quanto verdadeiros irmãos.

Mais do que em palavras, isso é magistralmente representado em tela em uma silenciosa cena (que talvez nem seja percebida pela maior parte do público), passada nos vestiários, nos momentos que antecedem o evento que mudaria as vidas da dupla de protagonistas.

São vários detalhes que muito acrescentam à narrativa (simples, mas eficiente) e fazem com que “Creed III” tenha grande êxito do início ao fim. E com o próximo capítulo / round nos planos de Michael B. Jordan, dá para dizer que essa luta está longe de terminar.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.

Filed in: Cinema

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