Crítica: “Dumbo”

“Dumbo” sempre esteve entre minhas animações preferidas (o que significa que também é uma das que mais me fez chorar). Sabia que ver a versão da história do pequenino elefante de coração tão grande quanto suas orelhas em live-action seria uma experiência arrebatadora – tanto que cheguei a cogitar nem ir ao cinema por falta de coragem pura e absoluta.

Com satisfação e certo alívio, digo que o diretor Tim Burton voltou a conquistar meu coração, depois de não ser tão feliz na adaptação cinematográfica de “O Lar das Crianças Peculiares”. Mestre na arte de criar cenários fantásticos, ele dá à produção um equilíbrio raro e belíssimo, que encontra seu lugar entre o que soa realista e o que permanece como encantamento de nosso imaginário.

A trama tem como protagonista o adorável filhote de elefante que se vê separado de sua querida mamãe após uma ardilosa armação de um dos integrantes da trupe do circo em que vivem. A partir daí, a ação se passa quase na íntegra ao redor da tentativa de reaproximar mãe e filho.

Não há complexidade no roteiro e é essa simplicidade que o torna tão atemporal. Apesar dos fatos se passarem em 1919, o cerne dos sentimentos permanece o mesmo, ou pelo menos assim deveria ser: o respeito pelo que é diferente e o amor pela família – que não necessariamente precisam incluir laços de sangue ou proximidade de espécie.

Ao optar pela narrativa sob a ótica dos personagens humanos, Tim Burton consegue mostrar um lado mais “viável” aos olhos dos espectadores com maior dificuldade em embarcar em crônicas fantásticas. Aos que esperam por semelhanças com a obra original, a boa notícia e que, dadas as proporções, a essência da obra animada original de 1941 foi mantida, incluindo a aparição – rápida, porém graciosa – do ratinho Timóteo, a enternecedora canção “Meu Bebê” (ainda uma de minhas favoritas das produções Disney) e a icônica cena dos elefantes cor de rosa – embora em uma versão que pende mais para o politicamente correto.

Vale dizer que as conclusões de algumas passagens importantes, principalmente no que diz respeito aos momentos finais, surgem bem diferentes em tela, mas ainda assim conseguem criar uma atmosfera acolhedora e emocionante – dica: é fundamental encarar a sessão munido de muitos lenços de papel.

O elenco conta com grandes nomes do cinema e não decepciona. Max Medici (Danny DeVitto) é a epítome do apresentador de circos populares com atrações duvidosas, enquanto V. A. Vandere (Michael Keaton) é o visionário do ramo do entretenimento com ideias megalomaníacas e nenhuma ética. Holt Farrier (Colin Farrell) é um ex-combatente de guerra que retorna ao lar com marcas físicas e emocionais e precisa encarar uma nova realidade que inclui a perda da mulher e a responsabilidade solitária de criar os filhos.

Por falar nas crianças, Milly e Joe (Nico Parker e Finley Hobbins) entraram para minha galeria de personagens infantis mais fofos por sua inocência e dedicação em cuidar de Dumbo e por sua capacidade de continuar sentindo empatia pelo próximo, ainda que a vida não tenha sido tão justa ou generosa com eles. Ao lado da dupla, a trapezista Colette Marchant (Eva Green) brilha como um dos destaques mais cativantes e surpreendentes do longa.

Assim como a própria animação na qual se baseia e os inúmeros livros contando sua trajetória, “Dumbo” só vai conseguir conquistar aqueles que estiverem dispostos a embarcar na fantástica possibilidade de ver um elefante voar, aqueles que acreditarem no que é tido como impossível pela maioria e souberem que, apesar do quadro pouco favorável que acomete o mundo há mais tempo do que poderia ser tolerado, ainda existe bondade em alguns corações.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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