Em “Família” (Famiria), Seiji Kamiya (Koji Yakusho) é um oleiro que mora numa região isolada da cidade e recebe a visita do seu filho Manabu (Ryo Yoshizawa) e sua esposa Nadia (Ali Malyka), recém-casados na Argélia – onde moram por causa do trabalho de Manabu.
Uma noite, eles se encontram com Marcos (Lucas Sagae), filho de um imigrante brasileiro, que fugia de uma confusão do seu grupo de amigos com um criminoso local. Esse é ponto inicial da trama de um filme que discute o significado dos laços familiares.
O maior desafio da produção dirigida por Izuru Narushimaé retratar três nacionalidades, culturas e aspectos familiares em duas horas e, na maior parte, há sucesso na empreitada. A representação do país africano sofre mais. O foco fica na relação dos japoneses e brasileiros, dois povos com um relacionamento centenário, mas que ainda encontram algumas dificuldades.
É bem interessante ver a língua japonesa e o português se intercalando na tela. Algumas pessoas provavelmente não se enxergarão no retrato dos brasileiros, uma vez que eles moram num conjunto habitacional e falam como moradores da periferia paulistana. Certos estereótipos acabam sendo enfatizados, principalmente para reforçar o contraste com os personagens nativos.
Não há, no entanto, o objetivo de menosprezar os imigrantes, na verdade, incomoda um pouco a falta de brasilidade em alguns momentos, nos quais fica evidente que, embora o retrato seja bom, ainda sim é um olhar adaptado para o público japonês.
Entre os japoneses, Yakusho carrega “Família” de forma segura. É fácil se afeiçoar a Seiji e acompanhá-lo enquanto transita pela narrativa escrita por Kiyotaka Inagaki, pelos sentimentos que são exigidos dele, é bem agradável.
Uma curiosidade: um dos primeiros papéis de Koji Yakusho foi de “Imigrante A” num filme sobre imigrantes japoneses tentando se adaptar ao Brasil, com cenas filmadas em Tomé Açu no Pará.
por Thyago Evangelista – especial para A Toupeira
*Título assistido em Pré-Estreia promovida pela Sato Company.