Crítica: “Frankie”

O longa francês “Frankie” (Frankie) traz consigo um drama inteiramente complexo. Ao contar a história de Françoise Crémont (Isabelle Huppert), apresenta ao espectador uma nova forma de dramatizar sem as cenas clichês que são vistas com frequência no cinema.

Françoise é uma atriz de sucesso que descobre estar muito doente: um câncer terminal passa a fazer parte de sua vida, mexendo com as estruturas de sua família e amigos. A narrativa tem um ar de sessão de terapia, se repararmos  que em todas as cenas sempre há um silêncio ensurdecedor por parte dos personagens, a maneira como cada um deles se expressa, olhando fixamente como quem conta sua história de vida para um desconhecido e principalmente, a tristeza no olhar de cada um.

O núcleo central da trama gira em torno de Françoise: a ideia de que a atriz tão respeitada e cheia de vida irá morrer em pouco tempo parece ser perturbadora para as pessoas mais próximas. Isabelle Huppert, um ícone do cinema francês, não deixa a desejar e dá o melhor de si para essa atuação. Desde a primeira cena apresentada, ela mostra certo ar de resignação, aparentando estar apenas esperando o seu fim.

Pode-se dizer que Marisa Tomei protagoniza o longa ao lado de Isabelle. A atriz interpreta Irene, grande amiga de Françoise, e se mostra uma das pessoas mais abaladas com a sua doença.  A interpretação de Marisa é tão sutil que, em alguns momentos, é possível pensar que ela viveu aquele drama, ou algo parecido: seus olhos sempre molhados de lágrimas, seu semblante de preocupação, são pequenos, porém marcantes detalhes, em quase todas as cenas.

A história foi gravada em Sintra, Portugal, onde Frankie resolve se isolar após descobrir sua doença. Os ares portugueses dão um toque interessante para as gravações, as locações fazem toda a diferença no decorrer do filme, desde as ruas de pedras, o bonde passando pela orla da praia, até os bosques por onde Frankie caminha rotineiramente sozinha todas as tardes.

O diretor Ira Sachs sabe ser leve ao conduzir a história, o modo como ele preparou os atores para conduzirem seus personagens, o mais próximo da morte, foi muito perceptível – sem contar a interação de cada um. A pegada de realidade que ele traz para frente das câmeras é surreal. É como se a todo momento nós, espectadores, estivéssemos ali dentro, vivendo aquela situação, sentindo a mesma sensação de medo e perda vista em tela.

“Frankie” é um drama repaginado e atual, onde o previsível não ganha espaço e as cenas são capazes de comover até mesmo as pessoas mais duras. Com duração de 100 minutos, a história é bastante complexa, mas cheia de percepções reais. Aos fãs do gênero dramático de boas histórias, é uma excelente recomendação.

por Pompeu Filho – especial para A Toupeira

*Filme assistido durante Cabine de Imprensa promovida pela Paris Filmes.

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