“Girassol Vermelho”, dirigido por Eder Santos e Thiago Villas Boas, é uma ousada adaptação da obra de Murilo Rubião que se aventura nos terrenos da psicanálise, questionamentos existenciais e críticas sociais. O filme, protagonizado por Chico Díaz no papel de Romeu, um homem cujos devaneios começam a tomar conta de sua vida após um imprevisto na estação de trem, não é apenas uma narrativa linear, mas uma jornada introspectiva.
A história, que em sua essência trata de um homem perdido entre a realidade e a fantasia, se utiliza de construções psicológicas densas, onde a psicanálise se torna o motor principal da reflexão. Em muitos momentos, mergulha profundamente nos meandros da mente de Romeu, que questiona tanto a si mesmo quanto os habitantes da cidade onde se vê inesperadamente, criando um clima de tensão e desconforto.
O grande destaque de “Girassol Vermelho” é sua fotografia, que não apenas embeleza a tela, mas também carrega consigo uma carga simbólica poderosa. Com uma paleta que flerta com o mistério e o surreal, a cinematografia mistura o mitológico com o realista, criando uma atmosfera única, que transporta o espectador para um universo quase onírico. Cada cena parece ser pensada não apenas para mostrar o que está acontecendo, mas para sugerir o que está por trás da superfície.
As atuações são outro ponto alto da produção. Chico Díaz, com sua vasta experiência, imprime uma profundidade rara ao seu personagem, navegando entre os momentos de lucidez e delírio com maestria. O ator consegue, assim, dar vida a uma figura que, embora em um cenário fora do comum, se revela universal nas suas inquietações e crises existenciais.
Daniel de Oliveira, Luah Guimarães e Bárbara Paz, que completam o elenco, também merecem destaque. Em diversos momentos, as atuações nos remetem a uma peça teatral ou a um longa experimental, saindo da convencional narrativa linear e abraçando uma forma mais abstrata de contar histórias, que pode causar estranhamento ao espectador, mas também enriquece a experiência.
A obra se afasta das construções narrativas clássicas do cinema brasileiro, oferecendo uma proposta mais desafiadora e introspectiva. A ausência de uma estrutura rígida e a fluidez do roteiro proporcionam uma experiência cinematográfica que exige do espectador mais do que apenas passividade – é necessário um olhar atento, crítico, e até uma certa contemplação.
Não entrega respostas fáceis, mas se propõe a múltiplas interpretações, abrindo um leque de discussões sobre a mente humana, a sociedade e a própria natureza da realidade.
“Girassol Vermelho” é complexo e completo, vai além da simples experiência de entretenimento. Seu caráter psicológico e filosófico exige mais do que um olhar superficial; ele demanda uma reflexão cuidadosa e profunda, tanto dentro quanto fora da sala de cinema. Para aqueles dispostos a embarcar nessa jornada introspectiva, o filme promete uma experiência única.
por Artur Francisco – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Pandora Filmes