Crítica: “Lobisomem”

Monstros clássicos ainda são um dos maiores acertos do gênero terror. Entre as criaturas que se mantêm no pódio, é fácil pensar na que surge do amálgama entre homem e lobo, que mesmo após tantos ciclos lunares (seu título de maior sucesso foi produzido em 1941) continua povoando o imaginário dos fãs.

A trama de “Lobisomem” (Wolf Man) começa em 1995, quando um trilheiro é dado como desaparecido nas florestas do estado americano do Oregon. O local abriga uma área de caça na qual Grady Lovell (Sam Jaeger) tem uma cabana e onde vai ensinar a questionável prática a seu filho único, Burke (nessa fase, interpretado por Zac Chandler).

Trinta anos depois, vemos Burke (agora vivido por Christopher Abott) enfrentando uma crise em seu casamento com Charlotte (Julia Garner). Ao receber a confirmação de morte de seu pai, ele retorna à cabana há muito esquecida por ele, junto à esposa e a filha Ginger (Matilda Firth), a fim de esvaziar o local, enquanto tenta recuperar seu relacionamento e, quem sabe, buscar inspiração para retomar suas atividades como escritor.

É claro que as coisas não poderiam ser tão fáceis assim. Pouco antes de a família chegar ao seu destino, um acidente mudará seus planos. Inicialmente sem perceber o ocorrido, Burke é ferido pela misteriosa criatura que habita a floresta e logo sentirá na pele que há muito mais do que especulações sobre o identificado como portador da Febre das Colinas (ou, como os indígenas chamam, “Cara de Lobo”).

Dirigida por Leigh Whannell (que faz dupla com Corbett Tuck no roteiro), a produção acerta em vários pontos. Entres eles, a opção por efeitos práticos para mostrar a transformação do protagonista. A utilização de variadas próteses para marcar cada etapa do processo faz com que tudo pareça mais crível, gerando um ótimo resultado de body horror, que ainda sabe equilibrar a adição de gore às cenas.

Também vale mencionar a sagacidade em não abusar de jump scares baratos que poderiam trazer apenas um ar genérico às sequências mais tensas. Ao invés disso, os momentos de susto, mesmo quando não parecem tão temerosos, são bem executados e se fazem bem mais interessantes do que normalmente acontece.

Ao não se estender além do devido – seja na duração adequada de 1h43 ou mesmo na execução da história, cujo desenrolar dos fatos se resolve na passagem de poucas horas – o filme ganha agilidade e não se torna cansativo. Não há cenas desnecessárias, tudo tem um propósito para ser do jeito que vemos em tela.

A figura clássica do Lobisomem, amplamente difundida no imaginário popular como um Lobo que caminha sobre as duas pernas, cujo corpo animalesco ainda mantém um visível ar humano, dificilmente será deixada de lado. Mas, a decisão de se trabalhar com uma versão inédita funcionou para mim, até mais do que poderia imaginar em um primeiro momento.

Como o próprio diretor Leigh Whannell declarou em vídeo recente, essa é uma versão diferente da qual estamos acostumados, o que coloca o espectador em um lugar de inquietação frente ao que soa como desconhecido, mesmo que o tema já tenha sido tão debatido anteriormente.

E isso amplifica a eficiência da proposta de se mostrar como o personagem lida com essa dolorosa metamorfose, cujas consequências vão surgindo em escala, através do conflito criado pela perda gradual da humanidade e a dominação da fera irracional.

Com uma narrativa bastante simples, mas que carrega significados e detalhes dignos de uma observação mais apurada, “Lobisomem” é surpreendente e merece ser encarado como uma adição respeitável aos títulos referentes à aclamada criatura noturna.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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