Quando surgiram rumores de que “Logan” (Logan) teria como base a narrativa de “Velho Logan”, confesso que chorei. Porque esse, ao lado de “Eu, Wolverine” e “Origem” é um dos meus arcos de HQ’s favoritos. Mas logo imaginei que grandes (e fundamentais) mudanças seriam feitas, uma vez que por direitos autorais de estúdios diferentes, seria inviável a participação de personagens como Hulk e Gavião Arqueiro, pilares importantes nas páginas das revistas.
Com esse sentimento descobri que, mesmo com as esperadas alterações, a produção faz jus ao fato de ser o último filme de Hugh Jackman no papel de Wolverine, que ela consegue, de maneira definitiva, atingir o cerne de um dos melhores personagens de quadrinhos de todos os tempos.
Logan envelheceu. Assim como o Professor Charles Xavier (Patrick Stewart em atuação fenomenal). O ano é 2029 e o mundo mudou – para pior. Não há mais mutantes, a incrível habilidade de regeneração daquele que agora trabalha como motorista de limousine e atende pelo nome de James Howlett (finalmente!) já não funciona como antes, enquanto a mente mais poderosa do mundo representa, mais do que nunca, um grande perigo para a humanidade.
Apesar de tudo, Wolverine continua duro na queda, mas como sempre, apesar de não se abater com facilidade, ele sente dor. E essa é a sensação de quem assiste ao filme, uma dor de quem acompanha a despedida de um amigo próximo, que está em nossas vidas há 17 anos.
A trama nos apresenta a pequena Laura Kinney (a excelente Dafne Keen), uma mutante conhecida como X23, que carrega semelhanças bem profundas com o protagonista. Desde a primeira cena, a garota já mostra a que veio e faz com que seja fácil torcer por seu êxito. Sua fúria – no início silenciosa – consegue ser demonstrada de maneira pungente e eficaz. A inesperada missão de Wolverine, Xavier e do frágil mutante Caliban (Stephen Merchant) será manter a criança em segurança, até chegar no lugar conhecido como “Éden”, onde supostamente estão outros como ela.
Mas o caminho não será fácil. Os vilões da vez, Donald Pierce (Boyd Holbrook), Dr. Zander Rice (Richard E. Grant) e a Gangue dos Carniceiros, farão de tudo para atrapalhar os planos, não importando o preço a se pagar por isso, afinal, quando se pode manipular a criação de seres geneticamente modificados em laboratório, a vida acaba não tendo tanto valor assim.
Com uma classificação indicativa bem diferente dos filmes anteriores, dessa vez não há nenhum pudor em se dizer palavrões ou fazer uso de violência explícita (artifícios bem conhecidos de quem acompanha os quadrinhos). É uma satisfação ver como o personagem evoluiu nessas quase duas décadas que separam “X-Men – O Filme” de “Logan” e como houve uma aproximação genuína de como ele é representado nas revistas.
Todos os elementos funcionam. Da caracterização do elenco às locações em que a narrativa se passa. Da trilha sonora aos pequenos detalhes que farão os corações dos fãs de quadrinhos dispararem. O longa dirigido por James Mangold é como uma bem arquitetada construção em que cada peça se movimenta no ritmo exato para o sucesso do todo. Destaque para os momentos de crise do Professor Xavier, quando as imagens trêmulas e um som contínuo e agudo conduzem a plateia para dentro da incômoda paralisia causada nos que estão próximos a ele.
Em sua recente passagem pelo Brasil, Hugh Jackman disse que o filme era uma carta de amor aos fãs do personagem. O que me fez lembrar uma frase da canção “Por Enquanto” composta e interpretada por Renato Russo à frente de sua banda Legião Urbana: “Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o ‘pra sempre’, sempre acaba…”.
Magnífico e imperdível.
por Angela Debellis