Crítica: “O Auge do Humano 3”

Se o espectador encarar “O Auge do Humano 3” supondo que vai se deparar com um filme que siga os parâmetros habituais do cinema comercial, precisará transitar um caminho cheio de situações, conceitos cinematográficos diferentes aos usuais e momentos bem árduos, até cansativos e desnorteantes. Porém, caso chegue procurando alternativas, novidades e audácia tecnológica bem avançada, como cinema experimental, poderá ter alguma satisfação.

O primeiro item que podemos apontar é que a história da obra é mínima e até não existe. Assim, carece de um ponto fundamental segundo os critérios de avaliação e, inclusive, para poder desfrutar ao assisti-la. O que se alcança a entrever são pessoas de diversas origens – prevalecendo peruanos e asiáticos -, situadas na floresta de Taiwan e depois na cidade de Taipei, capital do país. Nos diálogos, misturam-se os idiomas espanhol e mandarim ou taiwanês.

Como se misturam também as sequências, porque não há uma sucessão cronológica ou ordem lógica. Já desde a primeira situação, a passagem para a segunda (e também nas seguintes), o público praticamente deve adivinhar do que se trata e quais os vínculos entre elas.

Pode-se assinalar a aparição (ou sugestão) de elementos misteriosos, por momentos com algo assustador, mas, em outras oportunidades, apenas exóticos e, em ambos os casos, não vistos diretamente pelos personagens. Por exemplo, uma figura humana que dorme estando em pé; em outro momento, humanos que se deslocam no ar sem apoio físico nenhum – estes últimos, sim, mostrados aos espectadores – etc.

Também há muitas sombras, quase sinistras, e se escuta o grasnido de aves que poderiam ser corvos. Há atitudes inesperadas, como quedas de pessoas no chão, sem causa aparente.

Há duas sequências de uma duração desnecessariamente longa: uma de seis minutos nos quais a imagem está fixa e não acontece nada – nada mesmo. A outra é um acompanhar da câmera a um grupo de pessoas na ascensão de um monte por um caminho sinuoso e rústico, ao mesmo ritmo em que vão os atores e teria qualquer pessoa adulta normal. Para quê essas demoras no relato? Difícil encontrar resposta satisfatória.

Todavia, em meio a falas absolutamente intranscendentes, há algumas interessantes que podem ser citadas: “Vergonha é ser megabilionário” – diz uma mulher pobre e isso se repete no relato; “Nem sei onde estamos e você me está perguntando para onde estamos indo” – diz uma personagem a outra, mas que é uma situação que pode acontecer cotidianamente conosco; “As coisas bonitas são perigosas”.

E, sobretudo, como elementos positivos, há deslocamentos da câmera em 360 graus e efeitos na imagem muito inovadores. Por isso, a fotografia e câmera da latino-americana Victoria María Pereda chamam a atenção. Mas, Eduardo Williams, argentino que dirige e fez a edição, deliberadamente parece concentrar-se só nesses efeitos e aspectos e não considerar aqueles outros relevantes, que já enumeramos resumidamente (história, atuações, edição para vincular tomadas, cenas e sequências, e dar um ritmo como mínimo suportável à trama etc.), próprios do cinema costumeiro e comercial.

A produção de “O Auge do Humano 3” é de vários países (Argentina, Peru, Países Baixos, Taiwan) e a ideia diretriz era fazer três filmes com esse nome. Contudo, o primeiro já tinha sido realizado. Eduardo Williams decidiu pular o segundo e filmar diretamente este, identificando-o com o número 3. Isto porque entendeu que estavam dadas as condições para tal salto devido ao ponto forte do filme, a parte técnica.

De todo modo, considerando os elementos antes enumerados com base neste último produto, cabe dizer que procurar inovação pode ser criativo e importante, mas dependerá do que se inova e de qual maneira.

por Tomás Allen – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Retrato Filmes.

Filed in: Cinema

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