Crítica: “O Auto da Compadecida 2”

É seguro dizer que, mesmo após vos de sua estreia nas telonas, “O Auto da Compadecida” segue como uma dos filmes mais queridos do cinema brasileiro. A história original de Ariano Suassuna (cuja primeira adaptação foi na forma de uma minissérie televisiva) mantém seu apelo entre o público, sendo daquelas obras que temos prazer em rever de tempos em tempos.

A notícia de que uma continuação seria desenvolvida para as telonas pegou muita gente de surpresa, uma vez que não parecia provável (ou necessário) contar algo a mais. Mas, a verdade é que, assistir a “O Auto da Compadecida 2” é como reencontrar velhos e queridos amigos que continuam tendo bons causos para contar, mesmo que tanto tempo tenha se passado.

O roteiro escrito por Guel Arraes (também à frente da direção junto a Flávia Saraiva), João Falcão, Adriana Falcão e Jorge Furtado nos leva de volta ao sertão da Paraíba, à cidade de Taparoá, palco das aventuras prévias de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó Furiba (Selton Mello).

A dupla se desfez há vinte anos, após a ressurreição milagrosa de João, que vai embora enfrentar desafios em outros cantos do país, enquanto Chicó permanece no mesmo lugar. Separado de sua esposa Rosinha (Virgínia Cavendish), o contador de histórias ganha a vida vendendo imagens de Nossa Senhora e relatando, repetidamente, os acontecimentos vistos no primeiro longa, aos poucos turistas que dão as caras por lá.

O inesperado retorno de João Grilo dará novos rumos à trama que se revela um misto de crítica social / religiosa e comédia com ar lúdico e teatral. Essa mescla resulta em algo muito interessante, capaz de ganhar a atenção da plateia com surpreendente naturalidade.

Com coadjuvantes tão icônicos quanto os apresentados antes, a tarefa de introduzir novas figuras parecia bastante complicada, e de fato, é. Mas, a boa notícia é que, embora o conteúdo seja totalmente inédito (já que a obra original não tem uma sequência), é possível enxergar os traços clássicos de Suassuna (e de outro trabalho seu, “O Auto da Boa Preguiça”).

A ação se dá durante a eleição municipal de Taperoá, encabeçada por dois candidatos distintos: Coronel Ernani (Humberto Martins), poderoso fazendeiro e responsável pela distribuição de água à população. E Arlindo (Eduardo Sterblitch), dono da única Estação de Rádio da região e de uma loja de eletrodomésticos que oferece duvidosas condições de compra a crédito.

Com seu apoio disputado pelos dois políticos, João Grilo enxerga  a oportunidade não só de tirar vantagem da situação, mas de conseguir reais benefícios à cidade que lhe recebeu de volta como portador de um verdadeiro milagre da fé.

Ainda falando sobre os novos rostos que ajudam a desenrolar a narrativa, Fabíula Nascimento interpreta a espevitada Clarabela, filha do Coronel Ernani e estudante de teatro. E Luís Miranda brilha em cada cena de seu personagem Antônio do Amor, malandro carioca que auxilia a dar credibilidade às falas de João.

Momento mais esperado da produção, o julgamento que marca a aparição de Nossa Senhora (dessa vez, interpretada por Taís Araújo) não decepciona e entrega uma excelente decisão criativa para representar a ideia de que todos tempos o bem e o mau dentro de nós. Quanto à trilha sonora, cabe destacar “A Compadecida”, linda faixa original interpretada por Maria Bethânia. Assim como a ótima releitura de “Canção das Américas”, na voz de João Gomez.

Ciente do peso da responsabilidade que carrega, “O Auto da Compadecida 2” consegue ser uma justa homenagem a seu antecessor e uma boa oportunidade de sorrir aos ouvir a atemporal frase de Chicó, para justificar suas divagações – lindamente representadas em tela  por animações: Não sei. Só sei que foi assim”.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela H20 Films.

Filed in: Cinema

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