Conheci a obra de Dav Pilkey há alguns anos, através de uma querida amiga que me presenteou com os volumes lançados até aquele momento de “As Aventuras do Capitão Cueca”. O hilário personagem tornou-se um de meus favoritos e gostei demais de vê-lo tão fielmente representado em tela (na adaptação de 2017 para os cinemas e, depois, em sua própria série animada para streaming).
Segui acompanhando o trabalho do autor americano e ganhei uma nova figura para me divertir: “O Homem-Cão” (Dog Man), que, após onze volumes de sua saga literária (o décimo segundo tem previsão de lançamento para maio nas livrarias brasileiras), chega às telonas com a mesa capacidade de fazer rir através de uma história que combina simplicidade, doçura e ação.
Escrita e dirigida por Peter Hastings, a animação se baseia no primeiro título da série de quadrinhos e mostra a inusitada origem do protagonista, que surge após o atrapalhado policial Rocha (voz de Peter Hastings na versão original e Gil Mesquita na versão brasileira) e seu fiel parceiro canino Greg sofrerem um acidente com sua viatura.
A partir de uma ideia brilhante / levemente infame, a cabeça do cachorro e o corpo do humano são unidos e geram o amálgama das duas figuras, que ganhará contornos de herói por suas ações em prol da cidade – mesmo que nem sempre as coisas saiam como esperado.
Embora muito sagaz, o protagonista se comunica apenas através de latidos, o que faz com que suas interações com os personagens humanos sejam ainda mais engraçadas, em especial quando o Chefe de Polícia (Lil Rel Howery / Rodrigo Oliveira) solicita seus préstimos.
A missão da vez é realizar a prisão de Pepe, “o gato mais malvado do mundo” (Pete Davidson / Gustavo Pereira). Inventor nato, o vilão felino cria inúmeros artefatos (devidamente nomeados com o sufixo 2000, tal qual é padrão nos quadrinhos originais), que têm como objetivo derrotar o Homem-Cão, mas cuja eficiência é bem questionável.
E se mais um vilão for acrescentado à narrativa? Essa é a ideia de Pepe ao decidir fazer um clone seu. O resultado (fora do previsto) é Pepezinho (Lucas Hopkins Calderon / Bernardo Lopes), uma versão mini e extremamente fofa do malvado, responsável pelos momentos mais delicados da trama, quando será fácil torcer para tudo dar certo na vida do gatinho.
Que tal um novo integrante nessa equipe do mal? Conte com Flippy, “o peixe com poderes psicocinéticos” (Ricky Gervais / Sérgio Stern), sempre disposto a complicar as tarefas de nosso paladino peludo. Sim, é tão absurdo / engraçado quanto parece.
Tudo funciona no longa. Como feito nas produções do Capitão Cueca, os traços característicos de Dav Pilkey mostram-se ideais para serem representados em movimento. Assim como a possibilidade de criar novas situações enriquece a já ótima narrativa vista nas páginas.
Piadas que variam da inocência absoluta (facilmente compreendidas, inclusive por crianças menores), a citações rápidas que vão divertir os adultos (como a inserção de um grande sucesso de Miley Cyrus para ilustrar determinado momento emotivo vivido pelo protagonista) culminam em algo que encontra os pontos certos para conquistar os espectadores.
Aos fãs dos livros, fica a dica de prestarem atenção aos detalhes – mesmo que mostrados em ritmo frenético a maior parte do tempo. Há algo especial aguardando para ser notado em tela.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.