Crítica: “O Homem do Norte”

Jovem príncipe vê seu pai ser assassinado pelo próprio tio invejoso e passa a ter no desejo de vingança seu único estímulo na vida. A história lhe parece familiar?

O motivo é simples: a conhecida peça inglesa escrita pelo dramaturgo William Shakespeare, “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” (e que serviu para a criação da aclamada animação “O Rei Leão”) é baseada na lenda de Amlet, do historiador dinamarquês Saxo Grammaticus, retratada em “O Homem do Norte” (The Northman).

Dividida em cinco capítulos, a história passada em Landnámsöld, Islândia, começa em 1914, durante a pré-adolescência do príncipe Amlet (nesta fase, interpretado por Oscar Novak), quando presencia a traição de seu tio Fjölnir (Claes Bang), o que culmina na morte de seu pai, o Rei Aurvandil (Ethan Hawke). O garoto também vê a mãe, Rainha Gudrún (Nicole Kidman), ser obrigada a aceitar um novo relacionamento com o homem que matou seu marido.

Sabendo do perigo mortal que corre, já que Fjölnir também anseia por sua execução, o garoto foge para terras longínquas, mas não sem antes fazer a promessa pela qual se guiará cegamente pelos anos vindouros: Vingar o pai, salvar a mãe e assassinar o tio.

A passagem de tempo de cerca de duas décadas marca o amadurecimento do protagonista (agora vivido por Alexander Skarsgård), que vislumbra uma oportunidade de concretizar seu plano de vingança ao se infiltrar na fazenda de propriedade do tio, como um escravo.

A partir desse ponto, entre sangrentas batalhas e uma inesperada aliança forjada com a feiticeira eslava Olga (Anya Taylor-Joy), Amlet percorrerá um caminho marcado por revelações e segredos, que alterna com precisão momentos da mais cruel angústia a mais palpável chance de redenção.

O novo trabalho de Robert Eggers, que assume a função dupla de diretor e roteirista (ao lado do escritor islandês Sigurjón Birgir Sigurðsson), mostra-se eficaz em todas as vertentes: sejam os violentos combates que não poupam o espectador de cenas explícitas, ou os misteriosos rituais da mitologia nórdica que podem parecer “estranhos” para quem não faz parte desta cultura – e que são ainda mais enriquecidos com as participações da bruxa vidente interpretada por Björk, e de Heimir, o Bobo da Corte vivido por Willem Dafoe.

Narrativa e tecnicamente falando, o épico viking atinge patamares louváveis. As excepcionais interpretações de todo o elenco, aliadas à fotografia de Jarin Blaschke, o figurino de Linda Muir e a música de Robin Carolan e Sebastian Gainsborough são elementos catalisadores para transformar “O Homem do Norte” em algo muito maior do que “uma simples história de vingança” – o que, por si só, poderia ser bem interessante também, já que o tema parece nunca perder a capacidade de atrair o público.

Para se apreciar na maior tela possível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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