Após mais de três anos de espera, finalmente chega aos cinemas a mais nova produção de Quentin Tarantino. “Os Oito Odiados” (The Hateful Eight), coincidentemente a oitava obra escrita e dirigida pelo produtor, vem às telonas depois de quase ser cancelada por vazamento de script, com a promessa de ser uma das boas surpresas de 2016.
A trama acontece oito anos pós guerra civil, nas geladas montanhas de Wyoming. O carrasco John Ruth (Kurt Russell) está a caminho de Red Rock, levando a sua presa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para ser enforcada. Durante a jornada eles encontram o agora caçador de recompensas, Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), e o novo xerife da cidade, Chris Mannix (Walton Goggins).
Depois de uma forte tempestade de neve, o grupo encontra abrigo no armazém da Minnie, que é uma parada de diligência para viajantes, lá se deparam com quatro desconhecidos já amparados. Ao longo do tempo, os hóspedes do empório começam a conhecer as reais intenções uns dos outros, dando início a um confronto sangrento.
O filme é acentuado por diálogos repletos de provocações; uma ferramenta de defesa utilizada pelas personagens para interpretar um papel dentro de outro papel, mascarando a sua real intenção na trama. O que mais chama a atenção é a consistência das falas durante o filme, que ousadamente acontece em um único cenário, com algumas poucas passagens pelo mundo exterior.
A questão do preconceito é outra marca forte do longa. Em pouco mais de três horas é possível analisar tópicos como violência contra a mulher, xenofobia e racismo, principalmente. O diretor foge ao politicamente correto e abre a vertente para que esses assuntos sejam discutidos socialmente. Além de deixar explícito que não somos tão politizados assim.
O mais interessante da obra é o mesmo nível de importância que cada personagem tem para que a trama seja realizada. Não há um herói, mas sim oito protagonistas igualmente odiados devido a atitudes do passado, bem como suas posições atuais.
Podemos dizer que Tarantino ousou e fez a sua arte dar certo, embora esta não seja a melhor produção do diretor. A fotografia do filme e a trilha sonora são outros espetáculos a parte.
Ótima pedida para o começo do ano.
por Fernanda Ravagi – especial para A Toupeira