“Quando chega o Outono” (Quand vient l’automne) inicia mostrando sua protagonista, Michelle (Hélène Vincent, em seu 52º trabalho), uma mulher madura que mora numa casa do interior rural da França.
Vive sozinha e parece ter uma vida que a psicologia poderia definir como ‘estruturada’. Sozinha, porém não solitária, pois tem uma amiga próxima, Marie-Claude (Josiane Balasko, na sua 96ª. atuação), com quem tem um bom relacionamento.
Também tem uma filha, Valérie (Ludivine Sagnier), com a qual nada dá certo, pois essa jovem a rejeita de maneira permanente. Finalmente, há um neto, ainda criança, que a avó gostaria que ficasse ali nas férias escolares, mas a mãe dele não permite.
O panorama se complica, ao ponto de conhecer-se um passado da protagonista e sua amiga, socialmente criticado pela sociedade. Além disso, Valérie sofre uma intoxicação grave que levanta sérias suspeitas. Detalhe para uma tomada de uma vegetação muito estranha em um dos passeios das duas anciãs, que parecesse antecipar o envenenamento da mulher (mérito do fotógrafo Jérôme Alméras).
As dúvidas sobre o que pode estar acontecendo com Michelle levam a pensar se está totalmente lúcida, já que tem idade relativamente avançada. Ou se é maldosa em grau extremo ou, pelo contrário, se é boa, inocente. Uma consulta médica tem resultado tranquilizante em aparência; porém, ambíguo, como quase tudo no filme.
No decorrer da trama surge outro personagem: Vincent (Pierre Lottin), filho de Marie-Claude, saído em liberdade condicional da prisão (onde estava por um delito que não é explicado). Sua presença e suas atitudes não cabem em uma definição simples. Caminha por uma linha tênue que o mantém como suspeito, mas a culpabilidade não fica evidente.
Não faltam elementos esquisitos nas relações de Michelle: com a filha e com o ex-prisioneiro. No longa, aparece tristeza com respeito à situação de Marie-Claude. E mágoa nas reflexões quanto ao fato de ter filhos que não correspondem ao carinho e ensino dado pelos pais.
Outro elemento são as imagens que talvez sejam alucinações, quiçá derivadas da idade, com projeções anímicas, que Ozon coloca deliberadamente. De todo modo, de forma gradual, o relato passa de um tom ameaçador a uma condição mais humana.
Chega-se a um final que opta por deixar dúvidas sobre o acontecido e o que acontecerá. François Ozon, em seu 26º título, tem antecedentes bastante relevantes, como “A Piscina” (‘Swimming Pool’, 2003, com uma Charlotte Rampling envelhecida) e “Oito Mulheres” (‘8 Femmes’, com Catherine Deneuve, Fanny Ardant e Isabelle Huppert, todas amadurecidas).
E agora nos entrega uma realização com boas atuações, que permite especular sobre a história e, ao mesmo tempo, refletir sobre a morte, a chamada terceira idade, seu passado, presente e futuro.
por Tomás Allen – especial A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Pandora Filmes.
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