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Crítica: “Quatro Paredes”

Indicado ao Oscar 2025 na categoria de Documentários, “Quatro Paredes” (Black Box Diaries) não é apenas uma exposição de um caso de abuso, mas uma verdadeira imersão na complexidade emocional e social que envolve o trauma, a luta por justiça e a resistência feminina.

Dirigido por Shiori Itō, a própria vítima da agressão, este documentário se destaca pela maneira íntima e profunda com que aborda o seu caso de estupro, cometido por Noriyuki Yamaguchi, um diretor de um canal de televisão no Japão.

O documentário traz uma perspectiva multifacetada sobre a história, alternando entre a visão de vítima, a de investigadora e a de cineasta, que são de fato o mesmo indivíduo. Esse enfoque triplo enriquece a narrativa, permitindo ao espectador explorar as várias camadas de uma experiência traumática.

Shiori Itō, além de se colocar como protagonista da sua própria história, assume também a posição de líder da investigação e, mais tarde, de narradora e cineasta da obra, o que confere uma sensação de controle sobre um processo que, até então, lhe foi tirado.

O terceiro ato apresenta uma reviravolta impactante, entrelaçando habilmente os diferentes pontos de vista da personagem. A tensão cresce à medida que o documentário revela, de forma gradual, documentos originais da investigação, como gravações de áudio e vídeos da polícia, que contrastam com o retrocesso dos direitos femininos no Japão, um ponto que o filme explora com sensibilidade e contundência. A questão do machismo estrutural é uma das mais poderosas que o documentário levanta, não apenas no Japão, mas também em um contexto global.

Um dos maiores méritos de “Quatro Paredes” é sua capacidade de envolver o espectador de maneira visceral, instigando-o a refletir sobre os temas abordados. Shiori Itō consegue transformar sua dor pessoal em um veículo de questionamento sobre o tratamento das mulheres na sociedade, convidando o público a se perguntar se esses problemas também têm ressonância em suas próprias realidades.

A montagem é fluida e bem estruturada, mantendo o ritmo envolvente, sem nunca se tornar confusa. A produção tem a habilidade de capturar a atenção do espectador até seu último ato, com um gancho poderoso que garante a concentração contínua.

Ao mesmo tempo em que traz à tona uma narrativa pessoal e dolorosa, é também um chamado à ação, unindo o pessoal ao político e tornando-se um marco na luta por justiça e igualdade.

Em um cenário cinematográfico onde as questões feministas ganham cada vez mais espaço, “Quatro Paredes” é uma produção essencial que ilumina as raízes do machismo ainda presentes na sociedade japonesa. A história de Shiori Itō não é apenas a sua, mas de muitas mulheres que continuam a lutar contra sistemas opressores.

Este documentário é um grito por mudança, um convite ao pensamento e à reflexão. Sem dúvida, é uma obra que vale a pena ser vista – não só pela sua relevância social, mas pela maneira impactante com que nos leva a confrontar as questões que afetam todos nós, independentemente do lugar onde vivemos.

por Artur Francisco – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Synapse Distribution

*Disponível no Filmelier+, canal que você pode assinar dentro do Prime Video Channels

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