Em seu discurso de aceitação do Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático, Fernanda Torres deu uma comovente declaração: “A Arte pode perdurar pela vida, mesmo em momentos difíceis”. É o que nos mostra a narrativa de “Sing Sing” (Sinhg Sing), que chega aos cinemas brasileiros com três indicações ao Oscar e vários outros prêmios já conquistados na bagagem.
Baseado em “The Sing Sing Follies”, um artigo de 2005, de John H. Richardson (parte de um compilado que se transformou no livro homônimo lançado em 2024 pelo mesmo jornalista), o longa tem como cerne a rotina vivida pelos internos da prisão de segurança máxima localizada em Nova York.
Mas, ao contrário do que poderia ser o caminho mais óbvio para uma obra com essa premissa, tornamo-nos espectadores do trabalho realizado pelo programa “Reabilitação Através das Artes” (no original, RTA – Rehabilitation Through The Arts), que atua em onze unidades prisionais americanas e propõem atividades artísticas variadas aos detentos.
Entre elas, a possibilidade de atuar em peças teatrais que têm cada uma de suas etapas –da escolha dos textos, ao momento em que as luzes do placo se apagam – cumpridas por aqueles que, como um dos personagens diz em dado momento da produção, estão lá para recuperar sua humanidade.
A história gira em torno do grupo que participa das peças encenadas em Sing Sing e que, capitaneado pelo injustamente condenado John “Divine G” Whitfield (Colman Domingo, em interpretação magistral), tem seus alicerces balançados com a chegada de Clarence “Divine Eye” Maclin (Clarence Maclin, surpreendente em sua estreia na tela grande), cujas atividades incluem extorsão e venda de drogas a outros internos.
Homem de poucas palavras e sem demonstrar nenhuma vontade de socializar com os demais companheiros, aos poucos ele descobrirá que há muito a se ganhar com a inserção no programa, além da já sabida diminuição de sua pena.
Atendendo ao desejo dos integrantes do grupo, o diretor teatral Brent Buell (Paul Raci) escreverá a peça inédita “Breaking the Mummy’s Code”, a partir de sugestões que, mesmo não fazendo sentido quando postas lado a lado, transformam-se em um conteúdo que faz do absurdo (como a mescla de viagem no tempo, faroeste e Freddy Krueger) algo genuíno e engraçado.
Enquanto estiverem em cima do palco, sob os holofotes, a dura realidade imposta pela negativa de liberdade poderá ser, momentaneamente esquecida. E isso pode ser seja o mais perto de algo agradável que a maioria dos que lá estão aprisionados terão em um longo tempo.
São vários desafios encarados pelo drama roteirizado por Clint Bentley, Greg Kwedar (também à frente da direção), Clarence Maclin e John Divine G Whitfield. Talvez o maior deles seja o fato de a história se passar, em sua totalidade, dentro do complexo prisional.
Todavia, o que seria um problema, torna-se um grande trunfo, quando sabemos que, além das locações serem reais, o próprio elenco é, majoritariamente composto por ex-detentos que encontraram no Programa um importante apoio enquanto estiveram presos.
Com o eficaz trabalho de fotografia de Pat Scola e a triste – porém, bela – trilha sonora de Bryce Dessner, o drama tem situações tensas (como é usual em obras passadas em presídios), mas também entrega momentos comoventes – em especial, os que envolvem exercícios de introspecção praticados durante o ensaio para a peça.
Em resumo, a grandiosidade de “Sing Sing” é bem maior do que paredes e grades são capazes de conter. A força de sua trama nos faz refletir sobre até que ponto é possível acreditar em redenção e segundas chances e como ideias pré-concebidas nos impedem de apreciar as conquistas de outras pessoas, que, em muitos casos, fazem por merecê-las.
Imperdível.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.