Crítica: “Sol de Inverno”

“A lua brilha quando você patina”

A luz do luar se difere do sol por ser mais pálida, suave, noturna, com toques de poesia e melancolia.  E todos esses itens caracterizam bem o ritmo do filme “Sol de Inverno” (Boku no ohisama / My Sunshine).

O jovem Takuya (Keitatsu Koshiyama ) é um garoto introvertido e gago que não se dá bem em esportes. Porém, ao ficar encantado com a performance da patinadora Sakura ( Kiara Takanashi) passa a se dedicar com afinco à patinação,  supervisionado pelo mesmo instrutor (Sôsuke Ikematsu).

Há dois elementos que se entrelaçam no longa: a relação mestre discípulo e o romance de esporte.

O instrutor, ao ver um menino querendo entrar em um esporte muitas vezes encarado como feminino, mas sem preparo algum, recupera parte de sua antiga energia, da força de suas primeiras vitórias. Ao mesmo tempo, vemos a transformação mental que vão tendo as duas crianças ao longo do treino.

A parte de romance de esporte se foca na aproximação de Takuya e Sakura. Normalmente, histórias desse estilo puxam mais para categorias de verão e toda sua força.  Já aqui, temos algo brotando e crescendo a partir da delicadeza e do refinamento, antes da meio hora final melancólico.

A luz fortalece esse clima ao longo da história.  As cenas de neve mostram um branco quase estourado com uma paisagem que se sobrepõe aos personagens. Um mundo belo, mas esmagador.

Já as cenas internas têm uma luz bem mais contida, com várias sequências mais íntimas com um foco de luz suave que quase some na escuridão. Aquela luz que ainda brilha e aquece nossos corações, mesmo nas trevas.

O som fortalece isso tudo. O silêncio domina em cenas contemplativas, para refletirmos junto ao personagem em destaque naquele momento. Alternando com músicas predominantemente diegéticas, isto é, a mesma que os personagens estão ouvindo ou pensando é a que toca para o telespectador, ajudando você realmente a mergulhar em cada um deles.

A cereja do bolo são as apresentações de patinação extremamente bonitas, temperadas  pelas questões de luz e som que foram comentadas acima. A primeira hora é feita para deixar seu coração quentinho,  antes da triste quebra de expectativas vinda de um preconceito que bebe diretamente da ingratidão, do conservadorismo e  da dificuldade de comunicação.

Uma série de sequências cada vez mais melancólica segue, mas não espere uma onda de catástrofes e gritos, e sim a mesma suavidade do restante da obra, junto da lição como precisamos continuar indo em frente.

Mesmo o encerramento merece ser visto como uma música que retrata muito bem as dificuldades de comunicação do protagonista, ao mesmo tempo em que o letreiro brinca com a estética de coreografias de paginação.

Para quem gosta de um drama suave e bem construído fica a dica de “Sol de Inverno”.

por Luiz Cecanecchia – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Michiko Filmes.

Filed in: Cinema

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