Crítica: “Sorria”

“O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez”. As palavras do poeta, prosador, jornalista e político português Abílio Guerra Junqueiro podem parecer reconfortantes à primeira vista, mas dependendo do contexto, um círculo vicioso de sorrisos tende a se tornar algo mais sufocante do que agradável.

Em “Sorria” (Smile), isso se torna ainda mais claro, afinal, tal artifício facial em nada denota alegria, mas é absolutamente eficaz para causar desconforto nos espectadores, através de insistentes (e muito bem utilizadas) imagens em close dos rostos de vários personagens.

A trama escrita por Parker Finn (que também assume o posto de diretor) tem como protagonista Rose Cotter (Sosie Bacon), terapeuta que encontrou em sua profissão uma válvula de escape para lidar com graves traumas de infância e um histórico familiar bastante problemático no que diz respeito ao lado emocional. O hospital psiquiátrico em que trabalha é o palco para o início do que se tornará um grande pesadelo em sua vida.

As coisas começam a desmoronar ao seu redor, após o atendimento de emergência a Laura Weaver (Caitlin Stasey), jovem que afirma estar sendo perseguida por alguém misterioso que teria o poder de surgir sob a forma de diversas pessoas, todas tendo em comum apenas um sorriso macabro.

Cética, Rose busca entender o caso como sendo característico de algum problema de ordem mental, mas o diagnóstico será posto em xeque quando a terapeuta presencia o suicídio da paciente (em cena já mostrada no trailer oficial da produção) e os “sintomas” são transferidos para ela, que também passa a sofrer com alucinações visuais e sonoras.

E, graças a isso, em dado momento, uma cena bastante incômoda faz questionar algumas decisões criativas que tiveram aprovação para moldar o filme. Nem sempre recorrer a elementos aparentemente “seguros” para chocar o público é o melhor a se fazer.

Até o ponto em que graves transtornos psicológicos são postos como prováveis causadores do que vemos em tela, a obra consegue manter-se na confortável posição de uma grata surpresa, em um ano repleto de estreias de terror nos cinemas e plataformas de streaming.

Os jumpscares – talvez mais presentes do que seria o necessário – se não acrescentam muito, não prejudicam em nada o andamento da narrativa. Um deles, inclusive, foi um dos melhores que vi nos últimos tempos (será fácil perceber de qual estou falando, caso você decida assistir ao longa).

Quando a trajetória envereda para a perspectiva de realmente ser uma entidade perversa que domina a mente de seus “hospedeiros” – todos com histórico de experiências traumáticas -, a promessa de algo “novo” se dilui em partes. Mas o resultado continua convincente, embora menos interessante do que poderia ser se tivesse mantido a aposta em todas as mazelas causadas por algo que pode, de fato, afetar qualquer pessoa de maneira muitas vezes irreparável – em especial nos dias atuais: a saúde mental abalada.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paramount Pictures.

Filed in: Cinema

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