O extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial é assunto de centenas de produções mundo afora. A humanidade ainda se choca com o massacre promovido pelos alemães antissemitas, mas nem todas as histórias precisam terminar em morte e destruição. O documentário “Tsé” retrata a história de uma sobrevivente e sua vontade de viver.
O filme produzido, narrado e dirigido por Fábio Kow – neto de Tsecha Szpigel, protagonista que dá nome à obra – é divido em momentos que vão da infância comum na Polônia antes da guerra, a luta quase solitária pela existência até a vinda para o Brasil com seu companheiro e a consolidação da família.
O mais interessante é que cada fato narrado é titulado com um nome ou apelido diferente que Tsecha teve ao longo da vida. Foram colhidos depoimentos de amigos próximos e de familiares – filhos, netos, bisnetos – cada um recontando parte da história de Tsé, mas o ponto alto são os testemunhos dados por ela.
A produção conta com imagens da guerra, vídeos caseiros gravados por Fábio ainda criança, imagens mais recentes de Tsecha, fotografias de família e belas ilustrações de Leandro Spett.
O longa não deixa dúvidas do amor que envolveu a vida de Tsé e sua família, contudo em alguns instantes é pessoal demais, como se estivéssemos assistindo a um filme caseiro na sala de estar de alguém – isso não chega a ser um defeito ou desabona a obra, mas deixa certo receio sobre o quão profissional é.
É compreensível e divertido o uso de imagens amadoras, no entanto, a partir do momento que surge a ideia de um filme, espera-se que haja mais cuidado com a captura das imagens – principalmente as de Tsé. Apesar de Fábio deixar claro que os locais das gravações eram escolhidos pela avó, onde ela se sentisse mais confortável, há trechos em que a câmera balança tanto que tira o foco do que está sendo dito por ela.
Ainda assim, o documentário é uma criação encantadora. A cada fala de Tsé fica nítido o porquê do diretor ansiar por homenageá-la. É apaixonante a forma com que ela lutou pela vida e aproveitou cada oportunidade depois de conquistar o direito de continuar vivendo.
Algumas histórias precisam ser eternizadas e compartilhadas e a de Tsecha Szpigel é uma dessas.
por Carla Mendes – especial para A Toupeira