“Um Homem Comum” (An Ordinary Man) trata-se de um relato, uma versão, sobre um criminoso de guerra, o último de uma lista de culpados já julgados, único que conseguiu fugir até esse momento dos tribunais internacionais de justiça.
Ou seja: não é apenas um belicoso, mas um assassino genocida. Assim é apresentado no início do próprio filme e a primeira cena resulta ser paradoxal: o General (tal o grau que possui) critica severamente um comerciante por assassinar… tomates! Ele, justamente ele, irritado, acusa de “criminoso” a um simples negociante!
A continuação sucedem-se duas cenas, dois momentos, que ilustram a enérgica personalidade do protagonista, encarnado pelo conhecido ator inglês Ben Kingsley (que já tinha feito em 2013 um filme também titulado “Um Homem Comum” – ‘A Common Man’, porém com outras características). E é justamente neste personagem em quem recai o filme.
Porém, aqui aparece o primeiro problema em termos cinematográficos: há mais peso específico nas palavras que nas imagens. E todas aquelas palavras, em vastos monólogos, estão destinadas a dar o perfil psicológico desse general e quiçá a justificar suas ações passadas. Ou, como mínimo, a procurar que não sejam julgadas duramente pelos outros.
Trata-se de um defeito não menor no cinema. Palavras em excesso ou em lugar de imagens, são falha grave. E neste caso, isso se soma a essa pouco clara tentativa de não ser tão drásticos com o general, com argumentos sem muita consistência.
Assim, o diretor Brad Silberling tenta mostrar o que habitualmente é definido como “o lado humano” do protagonista. Mas só em alguns sentidos o consegue. Pode-se mencionar esse lado positivo principalmente no vínculo que se estabelece entre o protagonista e a camareira.
Encarnada pela islandesa Hera Hilmar, de uma sugestiva beleza fria (própria do clima escandinavo?), resulta uma personagem bastante interessante dada sua condição parcialmente enigmática. Isto porque por um lado, é muito evidente não se trata de uma camareira comum, inocente, mas por outro, é uma figura estranha, principalmente por seu passado. Esta condição é obtida por uma boa atuação, em especial por seus prolongados silêncios, talvez um pouco apagada aqui pelo prolífico Kingsley. De qualquer maneira, Hilmar parece estar em um caminho bem-sucedido como atriz, a nível internacional.
Deve-se resumir que o percurso do filme chama a atenção no início, mas depois decai, torna-se verbal e óbvio. Porém nos últimos 20 minutos eleva seu nível de novo e chega a um final com duas situações que podem impactar e até surpreender – mais uma vez, relativamente.
Tem valor positivo a ambígua última imagem. Aqui sim, se pode mencionar, reiterando o conceito, que o diretor se expressa por meio apropriado ao cinema.
Em suma e por todo o anterior, o conjunto de “Um Homem Comum” resulta ser discreto.
por Tomás Allen – especial para A Toupeira
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