Teatralização do livro homônimo, escrito por Itamar Vieira Junior e adaptado pelo Diretor-Geral, Elisio Lopes Junior, “Torto-Arado – O Musical” destaca a espiritualidade afro-brasileira e a conexão ancestral como forças centrais da luta pela terra, que por benevolência do dono da fictícia fazenda Água Negra, no sertão da Bahia – daí a denominação de “arado”, porém “torto” -, estão ali morando de forma paupérrima, que remonta ao tempo da escravidão.
Apesar do Sr. Zeca Chapéu Grande, que considera que “Cuidar da terra é como cuidar da gente. Sem ela, a gente morre em silêncio, como a água que seca no rio”, Bibiana, uma de suas filhas, é inconformada com esta situação “torta” pela qual vivem e tenta buscar melhoria de suas vidas. Enquanto sua irmã, Belonísia, em virtude de um acidente, fica com dificuldade de ter uma vida melhor e até de se comunicar. Ela sofre um bocado! Você se apaixona por ela, por sua fragilidade e meiguice.
As irmãs enfrentam a opressão, enquanto sua fé nos orixás do Jaré, e nos rituais liderados por Dona Dionísia, a avó, sustentam sua resistência. Káwó Kábíẹ̀sílẹ̀, em Iorubá, saudação a Xangô, ilustra esta situação.
Xangô é um orixá das religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, que representa a justiça, os raios, o trovão e o fogo. É conhecido por ser justo, bondoso, forte e ágil, e por não tolerar injustiças, tais como a que esta família está vivendo.
O espetáculo une poesia, danças muito bem coreografadas, encantando quem busca arte que sensibilize e provoque reflexões, além das músicas que têm raízes nordestinas e africanas.
Segundo comentário que colhi após a apresentação, de que quem leu o livro, o musical é fiel ao que foi escrito. A apresentação a qual assisti contou com a presença da cantora Fafá de Belém na plateia, que mostrou em vários momentos, estar fascinada com o musical.
“Torto Arado – O Musical” conta com 22 profissionais em cena, sendo 16 atores. Dentre eles, destaque para Larissa Luz que vive Bibiana, que também se apresentou como a Cantora Elza Soares em “Elza – o Musical”; e Bárbara Sut, que interpreta sua irmã, Belonísia.
Além de seis músicos que estão dispostos nas laterais do cenário, inclusive em andar superior – diferente de outras apresentações que são debaixo do palco que, aliás, fica em curiosa perspectiva ascendente.
Um espetáculo que une fé, resistência e cultura. Suas músicas e rituais emocionam e convidam à reflexão sobre espiritualidade e pertencimento, inspirando com sua celebração da luta e das tradições afro-brasileiras com muita emoção.
Garanta seu ingresso até 15 de dezembro e viva a experiência transformadora de “Torto Arado – O Musical”!
por Carlos Alberto Quintino – especial para A Toupeira