“Se um dia o sol escurecer, e precisar de alguém pra tе aquecer… Se a solidão enfim chegar… Vão te encontrar…”
Muitas vezes, um material pode ser incrivelmente eficaz em uma plataforma e não ter o mesmo impacto quando adaptado para outro formato. Meu primeiro contato com a história de “Querido Evan Hansen” foi através do livro de Val Emmich, o qual eu li na véspera de assistir à adaptação cinematográfica estrelada por Ben Platt (que também foi um dos atores a dar vida ao protagonista nos palcos, na peça escrita por Steven Levenson, Benj Pasek e Justin Paul).
Porém, ainda faltava conferir a obra na versão teatral, o que aconteceu na tarde do último sábado, 24 de agosto, quando estive presente no Teatro Bradesco, em São Paulo, para ver o espetáculo que seguirá em cartaz até 22 de setembro na capital paulista.
E, para mim, a história funcionou tanto nas páginas, quanto nas telonas e tablado. O que significa que, felizmente, houve um cuidado em adequá-la a cada plataforma, sem perder a essência que transforma a obra em um dos musicais mais aclamados da Broadway.
“Quando eu olho da janela, eu vejo o mundo… Tento procurar o que tem lá no fundo… E grito, grito, grito e ninguém vê… Eu olho da janela…”
Na versão brasileira, Gab Lara interpreta Evan Hansen, jovem com transtorno de ansiedade que tem grandes dificuldades em fazer amigos. Ele mora com sua mãe, Heidi (Vannessa Gerbelli), que, após o divórcio, desdobra-se entre trabalho e estudo, a fim de dar um futuro melhor ao filho único.
Ele vê sua vida mudar após enredar-se em uma série de mentiras contadas sobre uma suposta amizade que tinha com Connor Murphy (papel de Hugo Bonemer), adolescente problemático que tira a própria vida.
É a chance de Evan aproximar-se da família Murphy, ganhando a simpatia os pais de Connor, Larry (Mouhamed Harfouch) e Cynthia (Flavia Santana) e a atenção de sua irmã mais nova, Zoe (Tathi Lopes), por quem o protagonista nutre uma paixão secreta.
“Ninguém merece esquecimento… Ninguém merece ser ninguém… Sem ninguém, se esconder, e sem querer um olhar de afeição… E ninguém pode te apagar…
Completando os personagens em cena, o divertido Jared Kleinman (Gui Figueiredo), que é o mais próximo de um amigo que Evan já teve. E a moderna Alana Beck (Tati Christine), cujo domínio das redes sociais ajuda a disseminar a ideia de que a memória de Connor é algo que precisa ser lembrado, para incentivar outros jovens a pedirem ajuda e não cometerem o mesmo ato desesperado e definitivo que ele.
Com concepção e direção original de Tadeu Aguiar, direção musical de Liliane Secco e produção geral de Renata Borges Pimenta e Eduardo Bakr, o espetáculo entrega versões que fazem jus às canções originais e que, assim como elas, mantêm-se na cabeça do público após o término da sessão.
Destaque para a dançante “Abraços, eu” (Sincerely, Me) e a comovente “Olhando da janela” (Waving through a Window). Além, é claro, do tema principal, “Vão te encontrar” (You will be found), cuja profundidade da letra merece ser absorvida com atenção.
Existe uma magia no teatro, que segue inexplicável e intocada. Enquanto os livros nos dão a chance de imaginarmos cenários como quisermos e o cinema nos oferece detalhes que enriquecem espaços e ajudam a contar fatos, o que vemos nos palcos é o melhor dos dois mundos.
“Só sei que preciso recriar a minha vida! É fácil mudar, е eu sei que tem saída! É preciso só acreditar que tudo vai sair do breu… Abraços, Eu.”
O cenário de “Querido Evan Hansen” é, relativamente, simples e isso o torna perfeito. Porque através dos diálogos dos personagens, somos conduzidos a todos os lugares em que a narrativa se passa, tudo porque o texto é bom e forte o suficiente para nos envolver por completo.
Falando sobre o elenco, todas as figuras em cena têm seu momento de brilhar (entenda-se sequências em que sua voz / canto se destaca), o que torna a escolha dos atores / atrizes algo bastante complexo, porque, além de boas interpretações, também é preciso convencer como intérpretes das canções, o que acontece durante as 2h30 de duração da peça.
Eu imaginava que teria uma boa experiência, mas confesso ter ficado surpresa com o que pude presenciar. E, ao término da sessão, enquanto elenco e músicos agradeciam a receptividade da plateia, eu mesclava aplausos, lágrimas e sorrisos, por me lembrar de que, mesmo quando tudo parecer difícil, eu serei encontrada.
Imperdível.
por Angela Debellis
Importante: Caso sinta que está precisando, não hesite em procurar / pedir ajuda. Se não quiser (ou não puder) conversar com alguém próximo, há serviços especializados para auxiliar nessas situações. Um deles é o CVV (Centro de Valorização da Vida) que tem vários canais de atendimento – todas as informações podem ser encontradas em www.cvv.org.br.